7.4.08

Costinha - Raspadinha do Rio - Loterj

Eu to completamente sem criatividade, mas ainda que estivesse hiper-criativo, não dá pra fazer melhor que o Costinha...

2.4.08

Roquinho - imitando o Neural


1.4.08

Floyd Mayweather Vs Big Show Wrestle Mania

Ahahahaha... achei os melhores momentos!! Vejam, nós podemos mesmo vencer as adversidades!

Razer v Behemoth

Achei, no youtube, a memorável final entre Razor e Behemoth, no primeiro Robot Wars Championship. Pra quem não sabe, esse campeonato foi criado não sei por quem, não sei por qual motivo, mas era legal demais. O povo projeta robôs e os põe numa batalha "sangrenta" até a morte. Eu torcia muito pro Razer, sei que, depois, ele perdeu pra um outro robô muito mais eficiente, porém muito mais chato...

WrestleMania XXIV -- Boxers Weigh In

Essa "luta" acabou se realizando ontem, mas eu não vou contar o resultado. Achei a idéia engraçada, e mais engraçado ainda é ver a chamada, hiper séria. Se eu achar a própria luta, depois, eu posto...

26.3.08

Errata

O neural acaba de me informar que o quadrinho do xkcd não é sobre o Bobby Fischer, enxadrista morto em janeiro, mas sobre o Gary Gigax, que inventou o RPG. Valeu, neural, foi mal pela rata... Cara, como é que vc descobre essas coisas?

Eu podia jurar que era sobre o Fischer. O bonequinho é a cara dele, todo desarrumado, com a barba desgrenhada... E a idéia de ocupar a morte com uma partida de xadrez, bem ao estilo Bergman, me pareceu ótima!

Agora, olhando melhor o quadrinho, eu vi que nem é xadrez o jogo, ali... Não gostei! Preferia a impressão que eu havia tido antes!!

Mas não importa. O que vale é que eu quis fazer a homenagem, então está feita.

O Bobby Fischer era o maior barato. O cara era brilhante. Ganhou o campeonato mundial de xadrez dos ‘inimigos’ russos nos anos 70 e virou um ícone dos Estados Unidos, durante a Guerra Fria. O mais legal, porém, é que a mesma lógica que levou todo mundo a divulgar seus feitos, na época, levou também ao seu providencial esquecimento, quando ele, ex-herói, renunciou a cidadania americada e começou a meter o pau em tudo o que dizia respeito aos Estados Unidos (com a mesma cara de maluco que ele sempre teve - cara essa que, antes, indicava genialidade e, depois, indicava maluquice mesmo).

Ele era muito divertido. O típico chato. Recusava-se a jogar uma partida de xadrez porque a iluminação não estava do jeito que ele queria, ou porque tinha muita gente em volta, ou porque a imprensa estava atrapalhando, ou por qualquer outro motivo do gênero. Eu me identifico com ele. Nunca joguei uma partida sequer de xadrez na minha vida, não porque eu sou ruim (longe de mim!), mas justamente porque eu nunca encontrei um lugar em que a mesa estivesse na posição exata, com a iluminação correta, com as pecinhas da cor certa (eu queria as peças vermelhas, com bolinhas amarelas, e queria vários peões em forma de rei, e um rei em forma de peão, parece-me mais moderno, meio-intelectual-meio-de-esquerda...), entre outras coisas. Ainda bem que nunca encontrei essas condições todas pra iniciar minha carreira de enxadrista. Sorte do Deep Blue.

Será que eu deveria mudar pra Reykjavik?

Sivuca e Zé Kéti




Os dois novos moradores da minha residência: Sivuca e Zé Kéti!
Qualquer semelhança entre o Sivuca e o David Bowie é mera coincidência...


Bobby Fischer


Faz tempo que eu não posto nada, então não me digam que a menção ao Bobby Fischer está atrasada. Mas é que eu não aguentei este quadrinho da xkcd...

9.3.08

voltando...

Há muito tempo não postava nada, aqui. E não tenho mesmo tido muito o que dizer, ando ocupado demais.

Vou postar, todavia, um e-mail que acabei de mandar pra uma amiga. Isto não é estúpido, não é engraçado, nada disso. Mas é o que eu penso. E está cada vez mais raro.

"Fulana,

Dia 8 eu fui na sua casa. Encontrei a Beltrana, sua
mãe e seu pai.

Não adianta, por mais que eu vá à sua casa, por mais
íntimo que eu fique de todos, eu tenho a impressão de que JAMAIS vou parar de me
impressionar com a cumplicidade do seu pai e da sua mãe. Seu pai é um exemplo, não só pra vocês não, mas até pra mim. E
deveria ser pra todo mundo que já teve o privilégio de o conhecer, como Semprônio,
Ticio, Caio etc. Que cara completo.

E sua mãe igualmente. Merece
cada atenção que ele lhe dá. Talvez não seja exagerado dizer que seu pai ssó é
tudo o que ele é (em termos de caráter, carinho, dedicação à família, noção de
importância das coisas, calma, maturidade), justamente porque tem a seu lado
alguém como sua mãe. Seu pai me lembra muito meu avô, pai da minha
mãe.

A impressão que dá é a de que seu pai, quando
conheceu sua mãe, conseguiu perceber exatamente o que tinha em mãos. Todo
mundo sabe que cada pessoa é única, que ninguém é descartável, que não
há duas pessoas iguais... enfim, isso é lugar comum. Mas poucas pessoas notam
que, justamente porque não há duas pessoas iguais, ter em suas mãos alguém de
enorme caráter e com todas aquelas qualidades boas é privilégio
que dificilmente acontece duas vezes na vida. Que dizer uma. Seu pai
soube disso.

Hoje em dia, tenho a impressão de que as pessoas
não conseguem perceber que abrir mão de um pouco de privacidade, de liberdade,
de individualidade aqui, hoje, pode significar a construção de uma família
absolutamente maravilhosa como a sua, amanhã. Que ceder numa briga, por mais
difícil que seja, pode significar construir uma relação mais forte. Que
compreender o outro pode trazê-lo pra mais perto de você e que, enfim, ao fazer
tudo isso, vc. vai atrair pra si, por parte da pessoa a quem ama, as mesmas
atitudes que dedica a ela. No fim das contas, com tudo isso vc. acaba tendo, em
si, não só a sua força mas também a força do seu parceiro. Vc. é duas vezes mais
forte, porque quando vc. quebra, o outro te levanta. Tudo isso tá fora de moda
não sei como.

A Globo deveria cancelar aquela bosta de
"malhação", que só divulga uns valores de merda pras pessoas, e colocar no ar,
em lugar desse cocô, um seriado chamado: Vida e obra de Seu Vigário. Um seriado
que ensine pras pessoas os valores indiretos, que mostre a existência de
ganhos imperceptíveis quando vistos de perto, que mostre aquelas coisas que a
gente só tem quando se convence de que o futuro não se encerra na semana que
vem.

Parabéns a vc. pela sua família, e a toda a sua família por
vc., que é fruto desse amor. E pode encaminhar, se quiser, este e-mail pros seus
pais. Se achar conveniente, substitua as palavras "aquela bosta" por "aquele
equívoco", "valores de merda" por "valores transviados" e "em lugar desse
cocô" por "em lugar desse show".

E não vale rir do meu
moralismo!

Beijos"

7.11.07

Anunciação e Encontro de Mira-Celi

Presentearei uma amiga com um livro no qual é analisado o poema "Anunciação e Encontro de Mira-Celi", de Jorge de Lima. Farei isso especialmente porque me impressionou um fragmento, que li recentemente na net. Trata-se do fragmento 25, que segue:

O avô tinha sido um ancião convencional,
que se enterrou de sobrecasaca, e polainas;
e a avó — uma menina pálida que morreu ao pari-la;
o pai fez algumas baladas;
contam que tinha uma luneta para olhar ao longe.
Daí — a mão dobra a página do livro,
e a história da tetraneta finda com uma estocada no
[ ventre:
há destinos travados, lenços quentes de lágrimas,
algum incesto, uma violação sobre um sofá antigo.—
Quando a mão dobra a página, há rastros de sangue
[ no soalho.Esta é a mais nova das cinco.
Veja que os seios são como neve que nós nunca
[ vimose ninguém nunca viu o pai que lhe fez um filho;
e o filho desta menina é este moço de luto.
Agora vire a página e olhe o anjo que ele possuiu,
veja esta mantilha sobre este ombro puro,
e estes olhos que parecem contemplar as nuvens
através da luneta avoenga. Veja que sem o fotógrafo
[ querer
as cortinas dão a impressão de caras
[ impressionantes
por detrás da gravura: um estudante de cavanhaque
[ e outro de capa.
Repare bem o braço que ninguém sabe de onde
circunda o busto da moça e a quer levar para um
[ lugar esconso.
Fixe bem o olhar com o ouvido à escuta para
[ perceber a respiração grossa,
os gritos, os juramentos... A saia negra parece
[ um sino de luto,
e o decote é a nau que a levou para sempre. E este
[ fundo de água
pode ser o mar muito bem; mas pode ser as
[ lágrimas do fotógrafo

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Voltando...

Desculpem, meia dúzia de leitores (que, com estas ausências, devem estar se reduzindo cada vez mais). Eu arrumei um gato (Sivuca - depois posto uma foto) e comecei a namorar, o que ocupou totalmente meus pensamentos. Tentarei voltar aos poucos.

18.9.07

Larry Bird the best ever

Na minha infância, não havia Michael Jordan. A discussão sobre quem era o melhor ficava entre Larry Bird e Magic Johnson. Eu preferia o Larry Bird.
Eu até concordo que, olhando pra trás agora, o melhor de todos foi o Jordan. Mas eu diria que foi por beeeeem pouco, e não é de se descartar que o problema nas costas do Bird - e sua prematura aposentadoria - tenha contribuído pra isso. Este vídeo é incrível.

16.9.07

What I ate

What I ate
David Shrigley

On Monday morning I got up at 8am.
For my breakfast I had 500 hard-boiled eggs and a cup of tea.
For lunch I had an old car tyre and a bucket of frogs and a carton of Ribena.For dinner I had a jar of anti-ageing cream and two metres of electric flex.

On Tuesday I got up at 8am.
For my breakfast I had a plastic ruler and next door's dog.
For lunch I had 53 pints of Guinness and then I went home early and went to bed.

On Wednesday I got up at 3pm.
For breakfast I had bacon and eggs, two cups of tea and some holiday brochures.
I didn't have any lunch because it was too late.
For dinner I ate my briefcase and all of my wife's clothing.

On Thursday I got up at 8am.
For breakfast I had a bottle of washing-up liquid and a car stereo.
For lunch I had the plumbing from an en-suite bathroom and two cups of tea.
For dinner I ate some important documents, a ski jacket, a staple gun, a pair of shoes, a packet of biscuits and some ice cream.

On Friday I got up early because I had a doctor's appointment so I didn't have time for breakfast.
For lunch I had a Cornish pasty and a cup of tea.
For dinner I ate all of the plants in our garden and a concrete paving slab.

On Saturday I got up at 8am.
I have to work on Saturdays.
For breakfast I had a bowl of muesli but I boffed it up on my trousers.
For lunch I ate the trousers that I had boffed up on and then I went to the barbers and got shaved bald and I ate all my hair on the way back to the office.
For dinner I ate an electric drill and some coleslaw.

On Sunday I got up at 9am and went to church without having any breakfast.
For lunch I ate a large gravestone and some grass.
In the evening I went out for dinner with my wife and I had scampi and she had lasagne.

Extraído do CD "Late Nighst Tales", do Nouvelle Vague

10.9.07

Big Mac

Eu realmente gostaria de ter criado isso, seria perfeito para o ideário estupidista, mas infelizmente a péssima idéia foi de Caetano Veloso e José Miguel Wisnik - e, pior, tem ar de seriedade.

Acabo de comprar o CD Onkotô ("Onde que eu tô", escrito pra parecer diferentinho), que os dois produziram para o excelente Grupo Corpo, de BH.

Horrível, em 80% do tempo. Para se ter uma idéia, uma das músicas se chama Big Bang e, num rap de péssima qualidade, tem, como refrão, believe it or not, esta passagem de inimaginável inspiração e profundidade:

"Se tudo começou num Big Bang,
tinha que acabar num Big Mac"

e, depois,

"lato-flou
fight-flucht
fiat lux
ptyx"

MEOOO DEUS!!!! Uma pena, o Grupo Corpo mereceria um pouquinho mais de esforço...

Para uma crítica mais paciente, séria e imparcial, vejam o blogue Cornocópia.

A real free man

Ontem de madrugada, sem sono, assistia, no Multishow, "Inside the actor's studios", que trazia uma entrevista com Morgan Freeman. Ótima em todos os momentos, especialmente em um no qual o ator reproduz uma conversa que teve com um crítico:

- How you about being the first person to play a black president of USA?
- I never playd a black president.
- And Deep Impact?
- I played a president. I can't play black.

Excelente... Pra um cinema que já produziu "the jazz singer", autodeterminação nunca é demais...

6.9.07

Larissa e o balão

Larissa sempre quis ter um balão, porque queria ver o mundo do alto. Ela era apaixonada pelas coisas que a envolviam, mas ela queria mesmo é as envolver, então precisava de um balão. Ela pensava que se visse tudo, poderia conter tudo, daí isso virou uma idéia fixa e ninguém poderia convencê-la de estudar, de trabalhar, de namorar, de coisa alguma: ela queria um balão.

Ela aprendeu a fazer um tal balão galinha. Ele funcionava assim: ela pegava uma folha de jornal, trazia para o centro as quatro pontas e as enrolava, como se fizesse uma sacola. Daí virava as pontas pra baixo e punha fogo nelas. A folha de jornal subia enquanto o fogo a consumia e isso, pra ela, era o primeiro balão. Várias foram as associações que ela, sem saber, fez entre o papel subindo e o fogo o consumindo, mas tais associações se conservaram muito ao fundo, então não atrapalharam ela em seu projeto.

Um dia a Larissa obteve seu balão. Ela não sabe dizer como isso aconteceu, então eu nem posso dizer que não foi um sonho. O fato é que ela entrou no balão, acionou a tocha e subiu. À medida que se elevava, ia vendo uma terra que nem conhecia. Era tudo diferente. Demorou pra que ela percebesse que aquilo que ela via era a mesma paisagem que conhecia lá de baixo. Com os olhos, ela poderia ir de um lugar a outro, num instante. Questionou o valor do tempo e da distância, mas logo abandonou essa idéia pra se entregar simplesmente à sensação de estar ali. Num dado momento, essa entrega lhe proporcionou a percepção de que o conhecimento que tinha daquela terra lá embaixo, na verdade, era fictício. Ela notou que, não obstante fosse o lugar onde ela naturalmente morava, aquilo se tornou todos os lugares que ela já conheceu, inclusive o lugar onde nasceu. Era tudo ao mesmo tempo, ela não tinha certeza se essa percepção era uma grande descoberta física ou só uma sensação, mas ela, no fundo, já tinha chegado no ponto em que uma coisa e outra não se diferenciavam.

À medida que o balão subiu e seu sonho se realizava, à medida que ela conseguia imaginar que abraçava não só a vila que queria possuir, mas toda a sua existência, seu presente, passado e futuro, ela começou a se assustar. De repente, sua vida pareceu limitada. Ela sentiu muita angústia e muita solidão, e passou a ter medo de acender a tocha para fazer o balão subir mais. Parecia-lhe que algo de balão-galinha havia no seu habitat. O pavor fez com que ela recuasse e encostasse as costas do lado oposto do cestinho, mas ao fazer isso ela sentiu como se caísse. Jogou-se, então no chão, primeiro de joelhos e depois deitada de lado, com as pernas encolhidas. Olhou para a tocha e notou que a havia deixado acionada. Sentiu pavor, não compreendeu por que fizera aquilo e teve certeza de que seu balão se queimaria e deixaria de existir. Quis fexar os olhos mas não conseguiu, permaneceu olhando atentamente para a chama e sentiu-se certa de seu destino.

Quase impossibilitada de sentir coisa alguma além de pavor, notou que, à medida que a chama se intensificava, o balão não subia mas, em vez dele, subia a cesta onde estava. Quis olhar o mundo, abaixo, mas não teve coragem de se levantar. Não notava sequer a cor do céu, então ela não poderia dizer se ela mudou ou não. Ela não sabia nem mesmo se respirava, mas estranhamente isso não tinha importância.

A cesta subia, subia, subia estranhamente, até que, num momento que ela não sabe exatamente descrever, a cesta passou para dentro do balão. Tudo se inverteu, a boca da chama, agora, estava acima, e a gravidade puxava no sentido oposto. Tudo estava invertido, e ela, que permanecia deitada de lado, encolhida, não teve vontade de se levantar. Ela crescia, a cesta se transformou em sua pele, ela crescia, crescia, e tocou, com as costas, braços, pernas, a superfície interna do balão. Não sentia mais medo, em que pese não compreendesse coisa alguma. Seus olhos se fecharam e ela via tudo cor-de-rosa. Todo o mundo que parecia lhe pertencer deixou de existir, assim como não mais existia a própria idéia de pertencimento. Tudo passou a se integrar de uma maneira completa, e pertencer a algo deixou de ser possível, desaparecendo junto com seu oposto. Aos poucos, perdeu a noção de tristeza ou de alegria.

Num momento, sentiu que todo o amor possível se dirigia ao balão. Em seguida, não soube dizer se o amor englobou o ódio, se a tristeza englobou a alegria, mas tudo se tornou uma só coisa. Não pensava mais, só sentia. Dormir ou acordar era o mesmo. Aos poucos, nada, absolutamente, poderia mais mudar. Já havia esquecido quem era. Ela não estaria mais diante da montanha, do rio, da água, do fogo, do céu, do pai, da mãe, porque nada disso existia, ela se tornara todas coisas possíveis, existentes ou por existir. A última coisa que desapareceu, junto com a última distinção, foi o tempo. Não havia mais momento, ela se tornara tudo e nada. Seu último instante durou a eternidade, e isso não lhe dava alegria ou aflição.

3.9.07

Formulário de reencarnação

Com a colaboração da querida Fernanda, vejam só a que ponto chegamos...

BeliefWatch: Reincarnate

By Matthew Philips
Newsweek


Aug. 20-27, 2007 issue - In one of history's more absurd acts of totalitarianism, China has banned Buddhist monks in Tibet from reincarnating without government permission. According to a statement issued by the State Administration for Religious Affairs, the law, which goes into effect next month and strictly stipulates the procedures by which one is to reincarnate, is "an important move to institutionalize management of reincarnation." But beyond the irony lies China's true motive: to cut off the influence of the Dalai Lama, Tibet's exiled spiritual and political leader, and to quell the region's Buddhist religious establishment more than 50 years after China invaded the small Himalayan country. By barring any Buddhist monk living outside China from seeking reincarnation, the law effectively gives Chinese authorities the power to choose the next Dalai Lama, whose soul, by tradition, is reborn as a new human to continue the work of relieving suffering.
At 72, the Dalai Lama, who has lived in India since 1959, is beginning to plan his succession, saying that he refuses to be reborn in Tibet so long as it's under Chinese control. Assuming he's able to master the feat of controlling his rebirth, as Dalai Lamas supposedly have for the last 600 years, the situation is shaping up in which there could be two Dalai Lamas: one picked by the Chinese government, the other by Buddhist monks. "It will be a very hot issue," says Paul Harrison, a Buddhism scholar at Stanford. "The Dalai Lama has been the prime symbol of unity and national identity in Tibet, and so it's quite likely the battle for his incarnation will be a lot more important than the others."
So where in the world will the next Dalai Lama be born? Harrison and other Buddhism scholars agree that it will likely be from within the 130,000 Tibetan exiles spread throughout India, Europe and North America. With an estimated 8,000 Tibetans living in the United States, could the next Dalai Lama be American-born? "You'll have to ask him," says Harrison. If so, he'll likely be welcomed into a culture that has increasingly embraced reincarnation over the years. According to a 2005 Gallup poll, 20 percent of all U.S. adults believe in reincarnation. Recent surveys by the Barna Group, a Christian research nonprofit, have found that a quarter of U.S. Christians, including 10 percent of all born-again Christians, embrace it as their favored end-of-life view. A non-Tibetan Dalai Lama, experts say, is probably out of the question.
© 2007 Newsweek, Inc.

30.8.07

Quadrilha em agosto

Primeira página da edição do Correio Braziliense de 29 de agosto de 2007: perfeita!

http://stat.correioweb.com.br/cw/EDICAO_20070829/fotos/capa.pdf

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24.8.07

Campanha

Convoco todos os leitores (as moscas, principalmente, já que eu não tenho leitor quase nenhum) a participar da campanha que lanço, para que a nossa querida madame pare de dedicar seu engenho e arte ao trabalho e demais coisas verdadeiramente importantes da vida, e volte a desviar parte de sua atenção ao agradabilíssimo agádoisesseoquatro, que não a leva a lugar nenhum, mas nos dá prazer, satisfação e nos traz cultura.
É fundamental que esta campanha seja bem sucedida e que o seja logo, caso contrário essa dedicação toda da madame ao trabalho pode dar resultado, ela vai acabar ganhando um dinheirão, vai viciar, perceberá que dedicar-se ao blogue é perder tempo e nós, que não a remuneramos absolutamente - nem pretendemos fazê-lo, que fique bem claro - restaremos órfãos de nossa grande diversão gratuita, sem mais poder sugar a energia e criatividade da sulfúrica blogueira.
Acho que esta é uma causa nobre, portanto, encampo-a. Madame, se duas pessoas assinarem este post, já será uma adesão de 100% dos meus leitores à campanha. Vou ligar já pra minha mãe, daí vai faltar só o leitor desconhecido!!

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23.8.07

xkcd II


retirado de xkcd.com

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Motos

O Neural Noise já não é mais um menino, mas resolveu realizar um sonho de criança há uns meses. Comprou uma moto. Pouquíssimo tempo depois, acidentou-se e arrebentou o pé, de modo que, se outro sonho de criança fosse participar dos cem metros razos numa olimpíada, ficou um pouco mais distante.

Não adiantou. Há certas coisas que simplesmente fazemos e não sabemos por quê. Ele continua andando de moto e postou hoje ele postou um texto sobre o assunto. Aqui em Brasília, o dono da pizzaria Valentina não tem uma perna porque a perdeu num acidente de moto (segundo ele, o irmão foi buscar sua perna do outro lado da estrada). Ainda assim, continua, utilizando uma moto adaptada.


De minha parte, sempre quis ter uma moto. Mas também sempre quis um monte de coisas: tocar guitarra, jogar futebol, sair com um monte de mulheres, escrever poesia, escrever prosa, ter um hamster...Tentei realizar a maioria desses sonhos: Comprei uma belíssima Epiphone Black Beauty e aprendi a tocar, bem mal, umas duas músicas. Desastre. Tenho o uniforme completo do SPFC, inclusive meias e chuteiras, que uso quando tento, sem sucesso, jogar bola. Saio bastante à noite, me visto bem, mas sou um medíocre (pra ser generoso!!) com as mulheres. Se tento escrever poesia, parece que tenho 11 anos. Prosa, parece que tenho 15. Um dia tive um hamster que teve desentiria e morreu logo depois de eu tê-lo feito tomar um pouco de Leiba.

Ou seja, alguma coisa me diz pra não tentar comprar uma moto...

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xkcd - Choices

Seqüência de cinco partes, extraída do excelente blogue xkcd.
(clique sobre os desenhos para ampliar)





Choices - Part 1






Choices - Part 2





Choices - Part 3




Choices - Part 4





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20.8.07

Freedom Jazz Dance

A bateria tem apenas quatro peças. A música se inicia com uma batidinha na caixa, seguida do ritmo ditado pelo prato, tocado no pedal. Ritmo rápido, intercalado pela caixa. Entra o clarinete, com uma intervenção rápida, póroro-pó. O rapaz da mesa da frente sorri e pega a mão da menina que estava com ele, que também sorri. Mas nem ele está pensando nela, nem ela está pensando nele. Apesar disso, ficaram noivos há pouquíssimo tempo. O clarinetista vê os dois e, novamente, intervém, rapidamente, com algumas notas como se fossem dedicadas ao casal. Agora os pratos são acompanhados pela caixa, num ritmo sempre rápido, tst, tst, ts, pápapa-pá. Uma menina sozinha, no balcão, olha pra trás. Depois, pra porta. Os três rapazes da mesa do centro não prestam tanta atenção. O da ponta, acompanha o ritmo com o dedo. Ele é sozinho e está cansado... quer se apaixonar. Os outros dois, sem descobrir o próprio coração conversam e riem alto. Um deles é sabe que é bissexual, mas guarda-o em segredo, não admite nem pra si próprio. O outro, não questiona sua sexualidade, sabe que tem de seguir a maré. O bissexual olha provocantemente para uma menina da mesa ao lado e cutuca o amigo. Ele adora mostrar virilidade. O outro olha a menina e faz um trejeito 'conquistador', que na verdade é nojento. O jazz corre solto. Essa cobiçada menina da mesa ao lado está com uma amiga, que reclama do namorado, mas ela não ouve muito. Ela queria encontrar um amor sincero, por isso está triste. O baterista está olhando pra essas duas, sorrindo e tocando. Intervém o piano, inicialmente com um acorde rápido. Depois, continuamente. O clarinete inicia um breve solo, ainda tímido. O clarinetista fecha os olhos e vai ao ritmo da música que ele já conhece. Lembra-se de quando a aprendeu, do que queria realizar e de todos os sonhos enormes que tinha. Não atingiu metade das metas, mas não sente tristeza, porque de todos os sonhos, o que tinha mais importância era o de poder sentir a música saindo dele, não do sopro, nem dos dedos, mas dele todo. O trompete começa a falar. O trompetista é amigo do clarinetista há muito tempo. Já tocaram juntos em tantos lugares, inclusive na viagem para Nova Iorque. Eles se olham e se entendem. A bateria, no mesmo ritmo base, dá uma virada e muda o estilo: fica mais rápida. O piano já entrou, agora tocando com mais força. É momento de improvisar. A moça sozinha, no balcão, não consegue aproveitar como de costume. Ele não vem, era evidente, ela sempre soube. De novo, ele não vem. Ela pede a conta, o garçom não ouve. Grita, mas ele não está olhando. Ela se vira e pede pro rapaz do balcão, que vai ao caixa. As duas mulheres da ponta, pra quem o baterista não pára de olhar, conversam, não se ligam no que está acontecendo em volta delas. Há dois engravatados, numa enorme mesa com um monte de gente, que também as olham e comentam, entre si, as fantasias sexuais que têm. Mas são discretos. A turma da mesa é do escritório – solo divino no clarinete – e todos estão ali por obrigação. Era um daqueles chatíssimos happy hours de trabalho. O chefe, empolgado e pensando que é querido, fala dos resultados da empresa – piano frenético, bateria crescendo. As duas meninas, a que fala do namorado e a que quer amor, não têm idéia da luxúria na cabeça dos dois engravatados. Nem da paixão que um dos três rapazes da outra mesa, o que acompanha a música com os dedos, lhe reserva. O pianista sente outra paixão, só sua. Acabou de começar a namorar. Apresentou a ela seu filho pequeno e tudo deu certo. Sua namorada chegou pouco antes e ouve a música, na mesa com um amigo e a irmã, lá no fundo. O amigo veio porque gosta da irmã, mas não tem coragem de dizer. Ela também gosta dele. Nenhum dos dois se manifesta. O pianista põe toda a paixão que sente na música, com cuidado para não se exceder, dum, drum dudududum, passa para um escala aguda e retoma o ritmo. Não há mais solos de piano, mas o ritmo de fundo é todo improvisado. O baixista não se faz perceber. É tímido, discreto e casado há muito tempo. É o termômetro da banda. O cartão da moça do balcão, que está sozinha, não passa. Problema na visa - quê? - problema com a visa!! Ela não trouxe master e fica irritada. Tira o cheque da bolsa. No fundo do bar, há um casal de estrangeiros, mas eles não estão entendendo muita coisa. O pianista está em êxtase, pensa na namorada, que o olha e também pensa nele. O calor dos dois – clarinete cresce, trompete acompanha e o baixo é perfeito – impregna o ambiente.

A música está no auge. De repente, algo muda.

O rapaz que acompanhava a música batendo com os dedos fecha os olhos, respira e se levanta. Vai até a mulher da mesa ao lado, que procura um amor. Fala com ela. Ela arregala os olhos, surpresa. Normalmente seria grossa, mas desta vez não se defende. Simplesmente ouve o que ele tem a dizer. Ele tem muito a dizer e ela gosta do que ouve. O celular da amiga toca. É o namorado, ela sai correndo do bar, porque tinha saído escondida dele. O piano intenso, começa a tocar mais rápido, acompanhando o clarinete que conduz o solo- póroró, póro, pó pórororó. O bissexual, com os olhos marejados, hipnotizado pela banda, sorri, pega a mão do colega ao lado e, virando-se rápido, revela seu segredo, tanto pro amigo, como pra si próprio. O outro arregala os olhos, engole seco, sai e, morrendo de medo, vai ao banheiro, onde se tranca, suado. O baterista esquece a prudência e começa a solar loucamente. O clarinetista e o trompetista continuam se entendendo, e tocam ainda com mais força. Ninguém mais parece saber o que faz, mas o ritmo orna divinamente. Na mesa de happy hour, o chefe, frenético, levanta, olha para o teto e começa a gritar com as duas mãos pro alto, sobre os impressionantes resultados da empresa. Mas, de repente, pára, assustado, encolhe-se e se senta na cadeira, à media que vê os funcionários vagarosamente se levantando. Todos ao mesmo tempo, olhando-o com ira e se aproximando. Baixo e bateria sincronizados, ritmo transcedental. Eles olham o chefe alucinados. Um funcionário lhe dá um soco. Os outros se aproximam e inicia-se um linchamento, ao ritmo da bateria plá, ptum, pá pá tutum. O baterista está definitivamente maluco, toca mais rápido, bate com força. O baixista tenta acompanhar a bateria, e a gomalina no cabelo se desmancha. Os dois rapazes que falavam de suas fantasias sexuais sobem na mesa, tiram a roupa e começam a rodar as calças pelo ar, gritando. A mulher da mesa da frente levanta-se e joga a aliança de noivado no chão. Retira-se enquanto o noivo, que nem lhe olha bate com as duas mãos na mesa gritando - fodaaaaa-seeeeee! A menina que queria um grande amor não tira os olhos do rapaz que a corteja e, sem mais esperar, beija-o apaixonadamente. Os dois caem no chão com mãos para todos os lados. O chefe continua sendo chutado ao ritmo da bateria. A mulher que estava preenchendo o cheque pára, joga a caneta no chão e, com o fundo de um copo, destrói a máquina do visa que não funciona. Bate insistentemente na maquininha, gritando. O som fica ainda mais intenso, puxado pelo piano. O dono do bar reclama, desesperado porque a visa cobra caro pela maquininha, e a mulher aumenta o grito e começa a socar o balcão. Ele avança sobre ela mas os garçons entram na frente e começam a espancá-lo. Ele grita “aaaahhhhh, eu devolvo, eu devolvo os dez por cento da semana passada, eu devolvo!” mas ninguém ouve, plá, papan, ptum tum tá, tá. O pianista não suporta o êxtase, grita enquanto toca, aaahhhhhhhh, louco de amor pela namorada e pela música. Ela levanta da mesa, corre, sobe no palco e se joga no colo dele. Ela o beija e ele não para de tocar. Ela desmancha todo o cabelo dele, que toca cada vez melhor. A irmã dela aproveita a ausência e a loucura, olha com paixão pro rapaz que veio com eles, põe a mão no seu rosto e parte para beijá-lo. É tudo o que ele quer, ele sempre quis. Ela se aproxima, o som é indescritível, a música é intensa e toma conta de tudo. Os linchamentos não atrapalham em nada, porque se dão ao ritmo da bateria. Os estrangeiros continuam sem entender nada. Copos se arrebentam na parede, atirados pela mulher do cartão visa. Trompete e clarinete na sintonia da bateria e do piano. Falta um dedo para o beijo esperado, eles se amam, ele sequer acredita, nunca teve coragem de beijá-la e agora é sua chance. Os olhos se fecham, as bocas se aproximam...

No momento do beijo, ele sente vergonha, medo e, inseguro e tremendo, vira o rosto.

A mulher pára, abaixa a cabeça e fecha os olhos. A música se estanca. A pancadaria pára. Todos olham o casal. Ele e ela de cabeça baixa. O chefe, no chão, está com os olhos inchados, o dono do bar também, mas ainda assim ambos se levantam, com a mão nas costas e olham. A moça e o rapaz que estavam no chão se beijando levantaram, ela arruma os cabelos e ele, as calças. Os dois rapazes descem de cima da mesa e, sem muito equilíbrio, vestem as calças, grunhindo com a garganta, aham, aham, cof, cof. Barulho de talheres pousando à mesa. Depois de alguns minutos de silêncio, todos pedem a conta educadamente, pagam e vão embora. O dono do restaurante repassa os dez por cento aos garçons. O rapaz que virou o rosto vai pra casa e chora a noite inteira.

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16.8.07

Os Simpsons

Sei que, logo logo, vai ficar batida, mas a abertura dos Simpsons feita em filme é ótima.

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15.8.07

Cinco frases do Otto Lara Rezende

1. Política é a arte de enfiar a mão na merda. Os delicados (vide Milton Campos) pedem desculpas, têm dor de cabeça e se retiram.

2. Ultimamente, passaram-se muitos anos.

3. Hoje eu reúno duas condições que em princípio se excluem: sou careca e grisalho. (Ao fazer 60 anos).

4. Eu escrevo todo dia, por compulsão. Mas agora, aos 70 anos, uma das perguntas que mais me intrigam é o que eu vou ser quando crescer.

5. Tenho para mim que sei, como todos os brasileiros, os três primeiros minutos de qualquer assunto.

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I can has cheezburger III


from www.icanhascheezburger.com

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14.8.07

Outro tipo de silêncio

Quando dizem que eu sou comunicativo desconsideram que uma forma eficiente de não dizer absolutamente nada é falando ininterruptamente.

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12.8.07

Cinco frases de Woody Allen

Cinco frases de Woody Allen:

[In 1977] This year I'm a star, but what will I be next year? A black hole?

For some reason I'm more appreciated in France than I am back home. The subtitles must be incredibly good.

Time is nature's way of keeping everything from happening at once.

I took a speed reading course and read 'War and Peace' in twenty minutes. It involves Russia.

If it turns out that there is a God, I don't think that he's evil. But the worst that you can say about him is that basically he's an underachiever.

7.8.07

O coco e o bicho preguiça

Deve fazer dez anos, mais ou menos. Eu fui ao MIS, em SP, ver um festival de curtas amadores. Um deles eu nunca esqueci. Era uma animação, não me lembro de quem (gostaria de lembrar). Começava com o amanhecer na floresta. O sol nascendo, os passaros voando e fazendo barulho, a câmera subindo pela densa mata, o céu, de vermelho, passava pra azul.

A câmera focalizava um bicho-preguiça. Ele estava pendurado, de cabeça pra baixo, num galho de árvore. Vira a cabeça, lentamente, e olha pro coqueiro que está em frente. A câmera se desloca e focaliza um coco. Volta pro bicho-preguiça, ele olha pra câmera e diz, com sotaque baiano:

- Ainda pego esse coco...

A câmera vai para longe, focaliza a floresta. Anoitece; amanhece de novo, o mesmo ritual, sol, pássaros etc. A câmera focaliza de novo o bicho-preguiça, do mesmo jeito, na mesma posição, ele de novo vira a cabeça, bem lentamente, olha pro coco na outra árvore e diz:

- Ainda pego esse côco...

Novamente anoitece, daí a câmera acelera, como se passassem alguns dias. Nova manhã, todo o ritual, focaliza-se de novo o bicho-preguiça, na mesmíssima posição. Ele olha pro coqueiro, a câmera se desloca até o coco que está já quase podre, pendurado num galho. A câmera volta pro bicho-preguiça, que, lentamente, começa a se movimentar. Aos poucos, percorre o galho da árvore até o tronco. Vagarosamente, vai descendo o tronco da árvore. Chega ao chão e, bem devagar, vai até o coqueiro. Chega no tronco e, aos pouquinhos, começa a subir. Sobe, sobe, devagar, quase parando... Chega até o alto. Olha pro côco. Estende a mão, lentamente, no maior esforço. Quando ele está quase pegando... O coco cai.

O bicho-preguiça grita:

- NÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃOOOOOOOOOOOOOOOOOO!!!!

E continua, sempre com o mesmo sotaque baiano:

- Tudo por causa da minha precipitação!!!

4.8.07

Espionagem

As pessoas adoram controlar a vida das outras pelo Orkut. É muito mais eficiente fazê-lo pelos blogues...

I can has cheezburger II



Do site I can has cheezburger

Gatos e cachorros

Há quem prefira cachorros, há quem prefira gatos. Eu costumo dizer que é fácil gostar de um cachorro. O cachorro bajula o dono o tempo todo, faz com que ele se sinta, constantemente, querido e indispensável. Não é incomum ouvirmos histórias do tipo “quando o dono morreu, o cachorro morrou também em seguida”.

Nada contra. Viva os cachorros, eu mesmo tenho uma e a adoro.

A questão é que os gatos não são assim. Eles vão para o colo do dono quando querem e SE querem. Se vc. chega em casa, seu gato pode perfeitamente se esfregar na sua perna ou, caso esteja um solzinho muito bom no lugar onde ele estiver, pode também não se mexer e continuar seu sono agradável. Algumas pessoas simplesmente não conseguem suportar essa independência. Daí, costumam dizer: “Gato é traiçoeiro, gosta da casa, não do dono.”

O amor pelo gato é um amor desprendido. Uma pessoa que é capaz de amar seu gato, aprende a amar independentemente da retribuição. Não que o gato não retribua, ele o faz. Mas quando quer. Amar um cachorro é fácil. No fundo, é um amor por si próprio. Eu admiro as pessoas que gostam de gatos.

Um dia estávamos discutindo esse assunto. Uma amiga minha, que defendia a superioridade do cachorro em relação ao gato como bicho de estimação, deu o seguinte exemplo:

- Imagine se vc. está num período horrível da sua vida. Foi abandonado pela namorada, está sem amigos, seu carro quebrou, vc. acaba de tomar o décimo esporro do seu chefe e sabe que, a qualquer momento, perderá o emprego. Tudo dando errado, aquele dia horrível. Se vc. chega em casa e tem um cachorro, pelo menos ele vai te alegrar. Se vc. tem um gato, quando chega em casa ele ainda pode te ignorar, e daí é que você se sentirá mal mesmo... Nem o gato se importa com você.

Um amigo meu, no ato, respondeu:

- Não, não. Se acontece tudo isso, vc. chega em casa, olha pra baixo e vê aquele cachorro com cara de bobo vindo que nem um bobo-alegre te lamber, aí que vc. se deprime mesmo. Pensa: ‘só este cachorro retardado é que me dá importância no mundo, e ainda por cima é porque eu lhe dou comida’. Agora, se vc. tem um gato, e depois de um dia como esses, chega em casa e é ignorado pelo bicho, então suas energias se renovam! Vc. pensa: ‘Chega!! É a gota d’água!! Preciso crescer como ser humano para ganhar o respeito desse gato!!’

I can has cheezburger


Tirado do site I can has cheezburger.

2.8.07

A Moça Bonita

Lembro-me que, quanto tinha mais ou menos onze anos, talvez dez, fui brincar na casa de um vizinho da minha avó, na praia, durante as férias de verão. Ele tinha recebido a visita de uma prima, que era um pouquinho mais nova que eu (tinha, portanto, dez anos, talvez). Não me lembro o nome dela; não me lembro quanto tempo ela ficou. Lembro-me apenas que ela tinha uma cicatriz enorme no rosto, que se prolongava por toda a bochecha. Essa cicatriz chamou minha atenção imediatamente quando a vi, lembro-me de ter tido algum pensamento de compaixão.

Esse meu amigo montava uma piscina de plástico na frente da casa. Brincávamos muito na piscina. Lembro-me de ter mergulhado e machucado a barriga no fundo. E de mais um ou outro detalhe. Eu não me lembro de muitos fatos, mas eles também não tinham muita importância.

Um dia, a menina foi embora. Eu fui me despedir. Disse apenas "tchau", e ouvi o mesmo. Ela, então, entrou na casa, pra terminar de arrumar as coisas e eu fui pra casa da minha avó. Sentei-me numa rede que havia na garagem e comecei a balançar com força. Continha o choro como podia. Uma vizinha, que passou em frente, comentou baixinho com a minha avó (mas eu ouvi): "Ele está triste. Estava apaixonada por ela (disse o nome da menina, que eu não sei mais qual é)". Eu estava mesmo. Muito. Mas tive vergonha de ser descoberto.

Nunca mais vi a menina. Lembro-me apenas do rosto dela, do cabelo preto, liso, curto, da estranheza que me causou a cicatriz, inicialmente, e do tamanho da ternura que eu sentia, ao final. Também me lembro do nó na garganta, que custava a sair. Engoli a história, junto com o choro, mas não esqueci. Lembrei-me quando li, recentemente, este conto maravilhoso do Rubem Braga, que descreve a mesmíssima situação, porém com muito mais qualidade...


A MOÇA RICA
Rubem Braga

A madrugada era escura nas moitas de mangue, e eu avançava no batelão velho; remava cansado, com um resto de sono. De longe veio um rincho de cavalo; depois, numa choça de pescador, junto do morro, tremulou a luz de uma lamparina.

Aquele rincho de cavalo me fez lembrar a moça que eu encontrara galopando na praia. Ela era corada, forte. Viera do Rio, sabíamos que era muito rica, filha de um irmão de um homem de nossa terra. A princípio a olhei com espanto, quase desgosto: ela usava calças compridas, fazia caçadas, dava tiros, saía de barco com os pescadores. Mas na segunda noite, quando nos juntamos todos na casa de Joaquim Pescador, ela cantou; tinha bebido cachaça, como todos nós, e cantou primeiro uma coisa em inglês, depois o Luar do Sertão e uma canção antiga que dizia assim: “Esse alguém que logo encanta deve ser alguma santa”. Era uma canção triste.

Cantando, ela parou de me assustar; cantando, ela deixou que eu a adorasse com essa adoração súbita, mas tímida, esse fervor confuso da adolescência – adoração sem esperança, ela devia ter dois anos mais do que eu. E amaria o rapaz de suéter e sapado de basquete, que costuma ir ao Rio, ou (murmurava-se) o homem casado, que já tinha ido até à Europa e tinha um automóvel e uma coleção de espingardas magníficas. Não a mim, com minha pobre flaubert, não a mim, de calça e camisa, descalço, não a mim, que não sabia lidar nem com motor de popa, apenas tocar um batelão com meu remo.

Duas semanas depois que ela chegou é que a encontrei na praia solitária; eu viajava a pé, ela veio galopando a cavalo; vi-a de longe, meu coração bateu adivinhando quem poderia estar galopando sozinha a cavalo, ao longo da praia, na manhã fria. Pensei que ela fosse passar me dando apenas um adeus, esse “bom-dia” que no interior a gente dá a quem encontra; mas parou, o animal resfolegando e ela respirando forte, com os seios agitados dentro da blusa fina, branca. São as duas imagens que se gravaram na minha memória, desse encontro: a pela escura e suada do cavalo e a seda branca da blusa; aquela dupla respiração animal no ar fino da manhã.

E saltou, me chamando pelo nome, conversou comigo. Séria, como se eu fosse um rapaz mais velho do que ela, um homem como os de sua roda, com calças de “palm-beach”, relógio de pulso. Perguntou coisas sobre peixes; fiquei com vergonha de não saber quase nada, não sabia os nomes dos peixes que ela dizia, deviam ser peixes de outros lugares mais importantes, com certeza mais bonitos. Perguntou se a gente comia aqueles cocos dos coqueirinhos junto da praia – e falou da minha irmã, que conhecera, quis saber se era verdade que eu nadara desde a ponta do Boi até perto da lagoa.

De repente me fulminou: “Por que você não gosta de mim? Você me trata sempre de um modo esquisito...” Respondi, estúpido, com a voz rouca: “Eu não”.

Ela então riu, disse que eu confessara que não gostava mesmo dela, e eu disse: “Não é isso”. Montou o cavalo, perguntou se eu não queria ir na garupa. Inventei que precisava passar na casa dos Lisboa. Não insistiu, me deu um adeus muito alegre; no dia seguinte, foi-se embora.

Agora eu estava ali remando no batelão, para ir no Severone apanhar uns camarões vivos para isca; e o relincho diante de um cavalo me fez lembrar a moça bonita e rica. Eu disse comigo – rema, bobalhão! – e fui remando com força, sem ligar para os respingos de água fria, cada vez com mais força, como se isto adiantasse alguma coisa.


(Extraído do livro "Os melhores Contos de Rubem Braga", seleção de David Arrigucci, 7ª Ed., São Paulo, págs. 39 e 40)

Conhece alguém assim?


Agradecendo à madame pelo link gapinvoid.com, eu morro de vergonha em me ver estereotipado desse jeito!!

28.7.07

O ventre seco - Raduan Nassar

Este texto foi extraído livro Menina a Caminho, do Raduan Nassar. Tinha lido há muito tempo, mas uma amiga, recentemente, lembrou-me deste conto, especificamente, e eu o reli. Trata-se, me parece, da continuação da história que se iniciou no "Copo de Cólera", tb. do Raduan Nassar. Pra quem gostar deste texto, recomendo o livro.

O VENTRE SECO

1. Começo te dizendo que não tenho nada contra manipular, assim como não tenho nada contra ser manipulado; ser instrumento da vontade de terceiros é condição da existência, ninguém escapa a isso, e acho que as coisas, quando se passam desse jeito, se passam como não poderiam deixar de passar (a falta de recato não é minha, é da vida). Mas te advirto, Paula: a partir de agora, não conte mais comigo como tua ferramenta.

2. Você me deu muitas coisas, me cumulou de atenções (excedendo-se, por sinal), me ofereceu presentes, me entregou perdulariamente o teu corpo, tentou me arrastar pra lugares a que acabei não indo, e, não fosse minha feroz resistência, até pessoas das tuas relações você teria dividido comigo. Não quero discutir os motivos da tua generosidade, me limito a um formal agradecimento, recusando contudo, a todo risco, te fazer a credora que pode ainda chegar e me cobrar: "você não tem o direito de fazer isso". Fazer isso ou aquilo é problema meu, e não te devo explicações.

3. Nem foi preciso fazer um voto de pobreza, mas fiz há muito o voto de ignorância, e hoje, beirando os quarenta, estou fazendo também o meu voto de castidade. Você tem razão, Paula: não chego sequer a conservador, sou simplesmente um obscurantista. Mas deixe este obscurantista em paz, afinal, ele nunca se preocupou em fazer proselitismo.

4. E já que falo em proselitismo, devo te dizer também que não tenho nada contra esse feixe de reivindicações que você carrega, a tua questão feminista, essa outra do divórcio, e mais aquela do aborto, essas questões todas que "estão varrendo as bestas do caminho". E quando digo que não tenho nada contra, entenda bem, Paula, quero dizer simplesmente que não tenho nada a ver com tudo isso. Quer saber mais? Acho graça no ruído de jovens como você. Que tanto falam em liberdade? É preciso saber ouvir os gemidos da juventude: em geral, vocês reclamam é pela ausência de uma autoridade forte, mas eu, que nada tenho a impor, entenda isso, Paula, decididamente não quero te governar.

5. Sem suspeitar da tua precária superioridade, mais de uma vez você me atirou um desdenhoso "velho" na cara. Nunca te disse, te digo porém agora: me causa enjôo a juventude, me causa muito enjôo a tua juventude, será que preciso fazer um trejeito com a boca pra te dar a idéia clara do que estou dizendo? É bastante tranqüilo este depoimento, é sossegado, ao fazê-lo, me acredite, Paula, não me doem os cotovelos. Está muito certa aquela tua amiga frenética quando te diz que sou "incapaz de curtir gentes maravilhosas". Sou incapaz mesmo, não gosto de "gentes maravilhosas", não gosto de gente, para abreviar minhas preferências.

6. Você me levava a supor às vezes que o amor em nossos dias, a exemplo do bom senso em outros tempos, é a coisa mais bem dividida deste mundo. Aliás, só mesmo uma perfeita distribuição de afeto poderia explicar o arroubo corriqueiro a que todos se entregam com a simples menção deste sentimento. Um tanto constrangido por turvar a transparência dessa água, há muito que queria te dizer: vá que seja inquestionável, mas tenho todas as medidas cheias dos teus frívolos elogios do amor.

7. Farto também estou das tuas idéias claras e distintas a respeito de muitas outras coisas, e é só pra contrabalançar tua lucidez que confesso aqui minha confusão, mas não conclua daí qualquer sugestão de equilíbrio, menos ainda que eu esteja traindo uma suposta fé na "ordem", afinal, vai longe o tempo em que eu mesmo acreditava no propalado arranjo universal (que uns colocam no começo da história, e outros, como você, colocam no fim dela), e hoje, se ponho o olho fora da janela, além do incontido arroto, ainda fico espantado com este mundo simulado que não perde essa mania de fingir que está de pé.

8. Você pode continuar falando em nome da razão, Paula, embora até o obscurantista, que arranja (ironia!) essas idéias, saiba que a razão é muito mais humilde que certos racionalistas; você pode continuar carreando areia, pedra e tantas barras de ferro, Paula, embora qualquer criança também saiba que é sobre um chão movediço que você há de erguer teu edifício.

9. Pense uma vez sequer, Paula, na tua estranha atração por este "velho obscurantista", nos frêmitos roxos da tua carne, nessa tua obsessão pelo meu corpo, e, depois, nas prateleiras onde você arrumou com criterioso zelo todos os teus conceitos, encontre um lugar também para esta tua paixão, rejeitada na vida.

10. Sabe, Paula, ainda que sempre atenta à dobra mínima da minha língua, assim como ao movimento mais ínfimo do meu polegar, fazendo deste meu canto o ateliê do desenhista que ia no dia-a-dia emendando traço com traço, compondo, sem ser solicitada, o meu contorno, me mostrando no final o perfil de um moralista (que eu nunca soube se era agravo ou elogio), você deixou escapar a linha mestra que daria caráter ao teu rabisco. Estou falando de um risco tosco feito uma corda e que, embora invisível, é facilmente apreensível pelo lápis de alguns raros retratistas; estou falando da cicatriz sempre presente como estigma no rosto dos grandes indiferentes.

11. Não tente mais me contaminar com a tua febre, me inserir no teu contexto, me pregar tuas certezas, tuas convicções e outros remoinhos virulentos que te agitam a cabeça. Pouco se me dá, Paula, se mudam a mão de trânsito, as pedras do calçamento ou o nome da minha rua, afinal, já cheguei a um acordo perfeito com o mundo: em troca do seu barulho, dou-lhe o meu silêncio.

12. No pardieiro que é este mundo, onde a sensibilidade, como de resto a consciência, não passa de uma insuspeitada degenerescência, certos espíritos só podiam mesmo se dar muito mal na vida; mas encontrei, Paula, esquivo, o meu abrigo: coração duro, homem maduro.

13. Não me telefone, não estacione mais o carro na porta do meu prédio, não mande terceiros me revelarem que você ainda existe, e nem tudo o mais que você faz de costume, pois recorrendo a esses expedientes você só consegue me aporrinhar. Versátil como você é, desempenhe mais este papel: o de mulher resignada que sai de vez do meu caminho.

14.. Entenda, Paula: estou cansado, estou muito cansado, Paula, estou muito, mas muito, mas muito cansado, Paula. (Teu baby-doll, teus chinelos, tua escova de dentes, e outros apetrechos da tua toalete, deixei tudo numa sacola lá embaixo, é só mandar alguém pegar na portaria com o zelador.)

15. Ainda: "a velha aí do lado", a quem você se referia também como "a carcaça ressabiada", "o pacote de ossos", "a semente senil" e outras expressões exuberantes que o teu talento verbal sempre é capaz de forjar mesmo para falar das coisas mirradas da vida, nunca te revelei, Paula, te revelo agora: "aquele ventre seco" é minha mãe, faz anos que vivemos em kitchenettes separadas, ainda que ao lado uma da outra. Não seja tola, Paula, não estou te recriminando nada, sempre assisti com indiferença aos arremedos que você fazia da "bruxa velha, preparando a poção pra envenenar nossas relações". Te digo mais: você talvez tivesse razão, é provável que ela vivesse a espreitar minha porta das sombras da escadaria, é provável que ela do fundo dos corredores te olhasse "de um jeito maligno", é provável ainda que ela, matreira dentro do seu cubículo, te alcançasse todas as vezes que você saía através do olho mágico da sua porta. Mas contenha, Paula, a tua gula: você que, além de liberada e praticada, é também versada nas ciências ocultas dos tempos modernos, não vá lambuzar apressadamente o dedo na consciência das coisas; não fiz a revelação como quem te serve à mesa, não é um convite fecundo a interpretações que te faço, nem minha vida está pedindo esse desperdício. Quero antes lembrar o que minha mãe te dizia quando você, ao cruzar com ela, e "só pra tirar um sarro", perguntava maliciosamente por mim, te sugerindo eu agora a mesma prudência, se acaso amanhã teus amigos quiserem saber a meu respeito. Você pode dispensar "a ridícula solenidade da velha", mas não dispense o seu irrepreensível comedimento, responda como ela invariavelmente te respondia: "não conheço esse senhor".

Profissão?

Uma amiga foi ao médico tratar de uma alergia. No início, ele, preenchendo a ficha, perguntou:

-Nome?
- Fulana.
- Idade?
- Trinta.
- Estado civil?
- Solteira.
- Por opção?
- Ou falta dela, né, doutor? Sabe como são as coisas...

Daí o médico olha com uma cara de tédio, meio de baixo pra cima, e repete, impaciente:

- PROFISSÃO.
- Ah, advogada.

A menina passou o resto da consulta querendo se esconder no próprio bolso... Tá ou não tá virando paranóia?

26.6.07

Gotan Project

O show do Gotan Project, em Brasília, foi muito bom. E de graça.

Au! Au!

Hoje tomei uma "bronca" da minha analista porque ela descobriu que a chamo de "veterinária". Isso me lembrou uma historinha da época do estupidismo, que não tem nada a ver com análise, mas tem a ver com vererinário. Aliás, não, tem a ver com cachorro. Mas prá que é que eu tô explicando isto? Me lembrei da história e pronto, já basta.

Tenho um amigo que defende a teoria de que os cachorros são muito mais evoluídos em termos de linguagem que nós, seres humanos. Por exemplo: na origem, dizia-se, em português, "Vossa Mercedes". Então, era um tal de "Vossa Mercedes poderia isto?" "Trouxe uma carta do imperador para Vossa Mercedes!" - e assim por diante. Com o tempo, simplificou-se isto para "vosmecê", depois pra "você" até que, hoje, estamos quase adotando definitivamente o "cê".

Isso acontece com outras palavras, como "tá", "belê", "sussa" etc. (que, na verdade é "et cetera")

A idéia desse meu amigo é que os cachorros estão muito mais avançados. Resumiram tudo a "au". Querem que o intruso vá embora? "au, au, au, au, au!!!!". Querem brincar? "au, au, au, au!". Têm fome? "Au! Auau!".

Isso não é apenas um som. É efetivamente uma linguagem. Tanto que, se nós dissermos pro cachorro: "deita!", ele vai e se deita. "Senta", ele igualmente obedece. "Junto!"... Ele entende também. Entende tudo, está a par da nossa linguagem. O contrário é que não ocorre. Quando o cachorro quer sair pra passear, ele inicialmente respeita nossa inteligência e diz, em alto e bom cachorrês: "Au! Au! Au!". Mas nós fazemos aquela cara de idiota - "Que foi, Totó? Que cê quer?". Daí o cachorro cansa de tentar falar com burro e vai até a porta, pega a coleirinha e fica fazendo mímica, pra ver se a gente entende. Daí, sim, nós, ainda com cara de bobos, pegamos a corrente e colocamos neles, falando qualquer coisa ridícula como quem conversa com criancinha.

Tanto a evolução canina é veradeira que, entre eles, os cachorros estão mais avançados ainda! Dispensaram a lingagem latida. Para qualquer coisa que um queira dizer ao outro, basta cheirar o trazeiro. Uma forma quase telepática de se comunicar. E universal.

É ou não é?

Cássia de partida

Minha homenagem à Cássia, a quem eu não via há tanto tempo, e que está de partida pra Alemanha. Mesmo sem ter contato nenhum com ela há mais de ano, me senti completamente à vontade em sua casa, na festa de despedida. Há certas pessoas com quem, definitivamente, temos comunhão de espírito.

16.6.07

Graça ou espírito?

Eu não sei se as pessoas andam pouco espirituosas ou se eu é que ando sem graça mesmo. Provavelmente, os dois. Recentemente, eu estava usando uma camisa que uma amiga me deu, na qual está escrito "A vida é a arte do encontro". Tive, com um estágiária, o seguinte diálogo:

Ela: Vida é a arte do encontro? Quem escreveu isso?
Eu: O Vinícius de Moraes.
Ela: Ahhhh... Vinícius... O Vini! Viu como eu sou íntima?
Eu: Pois é... Que Deus o tenha. O Dê.
Ela: Que? - me olhando com cara de Alien.

Francamente...

Memoire de la nuit e o peidorreiro


Ontem fui ao teatro assistir à peça "Memorie de la nuit". Realmente é muito boa. Vejam a sinopse, segundo o Correio Braziliense:


"O suíço Philipp Boë não vê a hora de apresentar o seu solo Mémoire de la Nuit em palcos brasileiros. Atração de hoje e amanhã, às 21h, e domingo, às 20h, na Mostra Internacional de Teatro (MIT), que segue até o dia 24, no CCBB, ele diz estar curioso por conhecer as diferenças de estilo do teatro no Brasil. Não só isso: quer sentir na pele as impressões do humor brasileiro. “Espero que o público goste desse surreal universo inspirado por René Magritte e também quero ter retorno direto do público. Estou interessado em conhecer as diferenças do humor nas várias culturas. As pessoas no Brasil provavelmente irão rir em
momentos diferentes do que acontece em outros lugares”, prevê Boë.


Criado há três anos, Mémoire de la Nuit utiliza elementos de ilusionismo para narrar a aventura de um detetive que tenta solucionar um misterioso assassinato. Para montar esse quebra-cabeça nebuloso, ele conduz o público em uma viagem onírica, tendo como referência não apenas a mente do criminoo, mas também suas reminiscências. As alegorias visuais dão impressão de ter saído de um filme do americano David Lynch. 'Estou convencido de que cada apresentação cresce com o público. No meio da trama, alguns textos dão à platéia várias pistas da história', destaca Boë."

Para assistir aqui em Brasília, porém, está complicado. Todos os ingressos já foram vendidos, eu fui na data da abertura e - literalmente - comprei o último. Depois, na peça, descobri por quê.

Antes de começar o espetáculo, havia uma equipe da TV Gazeta entrevistando o público. Fiquei com medo de eles virem na minha direção, porque eu definitivamente não tava a fim de aparecer na TV. Mas, pra minha alegria, eles resolveram entrevistar um cara que tava perto de mim. Era um daqueles sujeitos de fala mole e aspecto intelectualóide, quase telepata, que eu já descrevi neste blogue. Este, porém, além da famosa sandália de couro, ainda apresentava um cabelo cuidadosamente despenteado. A impressão que passava - e eu não tenho nenhum motivo pra duvidar que era proposital - era que, de duas uma: ou ele havia acabado de acordar, ou não tomava banho pra não enriquecer as multinacionais que produzem chuveiros, se é que há alguma.

No momento do espetáculo, essa preciosa figura sentou-se do meu lado e começou a conversar com outro sujeito, que igualmente estava de sandálias de couro (óbvio). Eu fiquei no meio do fogo-cruzado. As conversas giravam em torno da necessidade de fomento à cultura em contraposição ao teatro de grande público, e o papel dos bancos ricos nessa parada.

Num dado momento, o descabelado disse algo que me deixou especialmente irritado:

- Cara, o que eu acho bacana é que os preços aqui são bem baratos. Eu chego sempre de manhazinha pra comprar os ingressos e compro sempre dois, em todos os dias. Assim eu posso decidir quando é que eu estou a fim de ir, e se quero levar alguém.

Eu, que quase não consegui comprar o ingresso e ainda não pude convidar ninguém pra ir comigo, porque peguei o último, naturalmente tentei argumentar com o sujeito se ele não acharia um pouco egoísta essa postura, mas há pessoas que simplesmente não estão preparadas para admitir que podem estar erradas, ainda mais se quem aponta isso é alguém que toma banho.

Começou a peça, que é excelente, e essa figura, pra piorar ainda mais começou a peidar. Ele peidou durante a peça inteirinha. Insuportável. Peido fedido, cara, como pode? E ainda ficava suspirando o espetáculo todo, como quem estivesse entediado, achando tudo aquilo uma merda.

Como achar uma peça como essa ruim é algo que me intriga, porque era original, bem bolada, bem executada e muito rica. Mas tudo bem. Terminou o espetáculo, o teatro inteiro aplaudiu de pé e ele fez questão de não bater as mãos uma única vez. Saiu do teatro com cara de quem não gostou, como um gênio incompreendido neste mundo medíocre.

Haja paciência...

13.6.07

Namoros?

Este texto não é meu, é do Xico Sá. Eu bem que gostaria de tê-lo escrito, mas eu não teria, nem a idéia, nem o talento pra atingir esse modelo final. Portanto, contento-me em reproduzi-lo, dando o crédito a quem realmente merece...

Não se pede mais em namoro em São Paulo

É namoro ou amizade? Rolo, cacho, ensaio de amor, romance ou pura felicidade clandestina?
“Qualé a sua, meu rapaz?!”, indaga a nobre gazela. E o homem do tempo nem chove nem molha. Só no mormaço, só na leseira das nuvens esparsas.


Na era do amor líquido, para lembrar o título do ótimo livro de Zygmunt Bauman sobre a fragilidade dos encontros amorosos, é difícil saber quando é namoro ou apenas um lero-lero, vida noves fora zero…

Cada vez mais raro o pedido formal de enlace, aquele velho clássico: “Você me aceita em namoro”?

Talvez nem exista mais em São Paulo, a não ser lá na divisa com o Mato Grosso, numa taberna perdida de Mirassol, na praça de Guzolândia, depois da missa de domingo, talvez em Cosmorama, nunca na Ilha Solteira…

O amor e as suas malasartes. O amor será sempre dirigido por Hitchcock, haja suspense, mestre!

Quer namorar comigo?”

No tempo do “ficar”, quase nada fica, nem o amor daquela rima antiga.

Alguns sinais, porém, continuam valendo e dizem muito. O ato das mãozinhas dadas no cinema, por exemplo, ainda é o maior dos indícios.

Mais do que um bouquet de flores, mais do que uma carta ou um email de intenções, mais do que uma cantada nervosa, mais do que o restaurante japonês, mais do que um amasso no carro, mais do que um beijo com jeito, daqueles que tiram o batom e a força dos membros inferiores.

“Vamos pegar uma tela, amor?”, como se dizia não muito antigamente. Eis a senha.

Mais até do que um jantar à luz de velas, que pode guardar apenas um desejo de sexo dos dons Juans que jogam o jogo jogado e marketeiro do homem-bistrô, aquele que conhece vinho, que cheira a rolha para impressionar a moça .

O cinema, além da maior diversão, como diziam os cartazes de Severiano Ribeiro, é a maior bandeira. Nada mais simbólico e romântico. Os dedos dos dois se encontrando no fundo do saco das últimas pipocas… Não carecem uma só palavra, ainda não têm assuntos de sobra.

Salve o silêncio no cinema, que evita revelações e precoces besteiras.

Ah, os silêncios iniciais, que acabam voltando depois, mas voltando sem graça, surdo e mudo, eterno retorno de Jedi. Nada mais os unia do que o silêncio, escreveu mais ou menos assim, com mais talento, claro, Murilo Mendes, outro monstro entre os nossos líricos.

Palavras, palavras,palavras…

Silêncio, Silêncio, silêncio…

Dessas duas argamassas fatais o amor é feito e o amor é desfeito. Simples como sístole e diástole de um coração que ainda bate.

12.6.07

Tatuagem


Estou pensando em marcar alguns acontecimentos recentes de minha vida com uma tatuagem. Com a ajuda da Flá e da Madame, selecionei este desenho, que está aí em cima. É uma pintura do Egon Schiele chamada "Mother and child", de 1910. Se alguém que entende de tatuagens ler este desértico blogue, por favor me diga se acha possível o desenho ficar igual (as cores são complicadas). E, mesmo quem não entende do assunto, fique à vontade pra me dizer se achou bonito. Penso em colocá-la nas costas ou no braço...

Lílitchka!

Atendendo aos pedidos da minha querida lieberina, que, aliás, fez-me uma homenagem maravilhosa no seu excelente blogue, posto Lílitchka, poema do Maiakovski que eu cansei de recitar na vã esperança de tentar conquistar alguma caloura mas desavisada, na faculdade. Obviamente não deu certo, mas garanto que a culpa não era do poema...

LÍLITCHKA! (Em lugar de uma carta)
Vladmir Maiakovski

Fumo de tabaco rói o ar.
O quarto -
um capítulo de inferno krutchônikh.
Recorda -
Atrás desta janela
pela primeira vez
apertei tuas mãos, atônito.
Hoje te sentas,
no coração - aço.
Um dia maise me expulsarás,
talvez, com zanga.
No teu "hall" escuro longamente o braço,
trêmulo, se recusa a entrar na manga.
Sairei correndo,
lançarei meu corpo à rua.
Transtornado,
tornadolouco pelo desespero.
Não o consintas,
meu amor,
meu bem,
digamos até logo agora.
De qualquer forma
o meu amor- duro fardo por certo -
pesará sobre tionde quer que te encontres.
Deixa que o fel da mágoa ressentida
num último grito estronde.

Quando um boi está morto de trabalho
ele se vaie se deita na água fria.
Afora o teu amor
para mim
não há mar,
e a dor do teu amor nem a lágrima alivia.
Quando o elefante cansado quer repouso
ele jaz como um rei na areia ardente.
Afora o teu amorpara mim
não há sol,
e eu não sei onde estás e com quem.
Se ela assim torturasse um poeta,
ele
trocaria sua amada por dinheiro e glória,
mas a mim
nenhum som me importa
afora o som do teu nome que eu adoro.
E não me lançarei no abismo,
e não beberei veneno,
e não poderei apertar na têmpora o gatilho.
Afora
o teu olhar
nenhuma lâmina me atrai com seu brilho.
Amanhã esquecerás
que eu te pus num pedestal,
que incendiei de amor uma alma livre,
e os dias vãos - rodopiante carnaval -
dispersarão as folhas dos meus livros...
Acaso as folhas secas destes versos
far-te-ão parar,
respiração opressa?

Deixa-me ao menos
arrelvar numa última carícia
teu passo que se apressa.

(Tradução de Augusto de Campos)

Pra não dizerem que nunca publiquei nada...

Vejam só o que eu achei na net... Lá atrás, na virada de 99 pra 2000, um conhecido meu no Estadão me pediu que escrevesse um artigo qualquer, pra encher lingüiça no caderno de informática. Eu escrevi esse artigozinho fuleiro. Ele deveria ter sido publicado antes do bug do milênio, mas acabou saindo só em 3 de janeiro de 2000. Além disso, os caras editaram pra caramba meu texto. Mas té que ficou bonzinho, na medida do possível...

"ELES ESTÃO FICANDO TEMPERAMENTAIS

Especial para o Estado

Há mais de dez anos, fiz um curso de linguagem Basic para micros Apple. Na época, via o computador como algo misterioso – só sabia que eram máquinas enormes e lógicas. No curso, aprendi o que eram bits, bytes, linguagem binária, rotinas, linhas de programação... Depois, passei a dominar comandos como “home”, “gosub”, “if...them”, etc. Até que pude dizer: “Eu sei lidar com computador.”

Grande engano. Pouquíssimo tempo se passou até o lançamento dos PCs, operados a partir de um “sistema operacional” (o que seria isso?) chamado MS-DOS. De novo, fiz um curso de computação e aprendi a trabalhar com “label”, “dir *.*”, “diskcopy”, “path”, etc. Aprendi, também, a usar o “moderníssimo” Wordstar, que – diziam – sepultaria as máquinas de escrever.
Desta vez, pensei, posso dizer que sei lidar com computadores. Na época, a grande coqueluche era um jogo chamado Prince of Persia, em que os movimentos do personagem na tela beiravam a perfeição. Estávamos chegando ao auge. A
inteligência artificial não tardaria. O Universo seria nosso!

Ao contrário das minhas expectativas, porém, em dois anos eu já estava completamente desatualizado. Um novo sistema, chamado Windows, havia chegado para revolucionar a computação. Tudo o que eu sabia era coisa do passado. Os gráficos “espetaculares” de Prince of Pérsia não eram nada comparados a Doom. Ao ligar o computador, automaticamente, todos teclavam “win”, para entrar no mundo maravilhoso das janelinhas. Depois, vieram os laptops, palmtops, Windows 95, Windows 98, Internet... Tornei-me advogado e desisti de todos os cursos – resolvi ser apenas usuário de computador, em vez de conhecê-lo profundamente.


Hoje, do alto do meu desconhecimento, vejo que os computadores não são grandes, nem lógicos. Ao contrário, estão cada vez menores e temperamentais! Quantas vezes, ao utilizar meu computador, sem qualquer explicação, ele resolve não mais trabalhar, com alguma desculpa esfarrapada do tipo: “Esse programa provocou uma falha geral no sistema e será fechado...” Em geral, não é porque fizemos algo errado. Mas o computador não quer o programa aberto e pronto! Não há nada de lógico nisso! Além disso, os computadores também têm um pouco de sadismo. Quem nunca perdeu um documento enorme no Word, só porque, de repente, apareceu um aviso de que “Esse programa será fechado...” – com a única opção de teclar Ok? É horrível! Ao fundo da tela, a gente vê aquele texto enorme, que levou duas horas para escrever, e na janela em primeiro plano, a única alternativa: concordar em perder tudo!

No momento, estamos assistindo à maior crise de temperamento da história da computação. Todos temem que alguns computadores, simplesmente, se recusem a acreditar que estamos no ano 2000. Para eles, será 1900 – não importa o que digam. Imagino os técnicos dizendo para eles: “Mas, computador, não é 1900, é 2000; você vai causar um colapso mundial se não entender isso!” E o computador responde: "Amigo, cada um com seus problemas; no meu modo de ver o mundo, é 1900.”

Esse é o nosso dilema. Em vez de inteligência artificial, criamos teimosia artificial. Em vez de dominar o universo, corremos o risco de uma catástrofe mundial... E eu, sem entender o que está acontecendo (como a maioria), torço para que o computador do meu banco resolva creditar cem anos de juros em minhas aplicações financeiras!"

9.6.07

No avião

Provavelmente alguém que lê isto (se é que alguém lê), anda de avião. Agora, gostaria que me explicassem: Por que, quando o avião pousa, antes mesmo de encerrar o movimento, todo mundo levanta e vai pro corredor? Simplesmente não consigo entender essa vontade que todos têm de se sentir dentro de em um ônibus. Do pouso até a abertura das portas, geralmente, passam uns dez minutos. Mas todo mundo adora aguardar esse prazo de pé, como se fossem, todos, ocpuados demais pra sair do avião por último.

O pior é quando vc. viaja no corredor. Se vc. simplesmente aguarda a abertura das portas do avião pra se levantar, normalmente as duas pessoas que estão ao seu lado te olham com uma cara de quem está olhando para um extraterrestre.

E o pior: Todo esse povo aguarda, depois, calmamente que as malas cheguem na esteira do desembarque. Vai entender...

8.6.07

Amo - Maiakovski

Não sou um profundo conhecedor de poesia - aliás, não sou profundo conhecedor de coisa alguma. Mas, dentro desse quase-nada que conheço, compartilho com vcs. o que considero ser o mais bonito poema de amor que já li: "Amo", do Maiakovski. A única exigência que faço é que qualquer um que esteja sem tempo volte a este blog depois. Quem quer que leia este poema deve fazê-lo muito devagar. Acreditem, vale a pena.

AMO

COMUMENTE É ASSIM

Cada um ao nascer
traz sua dose de amor,
mas os empregos,
o dinheiro,
tudo isso,
nos resseca o solo do coração.
Sobre o coração levamos o corpo,
sobre o corpo a camisa,
mas isto é pouco.
Alguém
imbecilmente
inventou os punhos
e sobre os peitos fez correr o amido de engomar. Quando velhos se
arrependem.

A mulher se pinta.
O homem faz ginástica
pelo sistema Muller.
Mas é tarde.
A pele enche-se de rugas.
O amor floresce,
floresce,
e depois desfolha.

GAROTO

Fui agraciado com o amor sem limites.
Mas, quando garoto,
a gente preocupada trabalhava
e eu escapava
para as margens do rio Rion
e vagava sem fazer nada.
Aborrecia-se minha mãe:
"Garoto danado!"
Meu pai me ameaçava com o cinturão.
Mas eu, com três rublos falsos,
jogava com os soldados sob os muros.
Sem o peso da camisa,
sem o peso das botas,
de costas ou de barriga no chão,
torrava-me ao sol de Kutaís
até sentir pontadas no coração.
O sol assombrava:
"Daquele tamaninho
e com um tal coração!
Vai partir-lhe a espinha!
Como, será que cabem
nesse tico de gente
o rio,
o coração,
eu
e cem quilômetros de montanhas?"

ADOLESCENTE

A juventude de mil ocupações.
Estudamos gramática até ficar zonzos.
A mim
me expulsaram do quinto ano
e fui entupir os cárceres de Moscou.
Em nosso pequeno mundo caseiro
brotam pelos divãs
poetas de melenas fartas.
Que esperar desses líricos bichanos?
Eu, no entanto,
aprendi a amar no cárcere.
Que vale comparado com isto
a tristeza dos bosques de Boulogne?
Que valem comparados com isto
suspiros ante a paisagem do mar?
Eu, pois, me enamorei da janelinha da cela 103
da "oficina de pompas fúnebres".
Há gente que vê o sol todos os dias
e se enche de presunção.
"Não valem muito esses raiozinhos"
dizem.
Eu, então,
por um raiozinho de sol amarelo
dançando em minha parede
teria dado todo um mundo

MINHA UNIVERSIDADE

Conheceis o francês sabeis dividir,
multiplicar,
declinar com perfeição.
Pois, declinai!
Mas sabeis por acaso
cantar em dueto com os edifícios?
Entendeis por acaso
a linguagem dos bondes?
O pintainho humano
mal abandona a casca
atraca-se aos livros
e as resmas de cadernos.
Eu aprendi o alfabeto nos letreiros
folheando páginas de estanho e ferro.
Os professores tomam a terra
e a descarnam
e a descascam
para afinal ensinar:"Toda ela não passa dum globinho!"
Eu com os costados aprendi geografia.
Os historiadores levantam a angustiante questão:
- Era ou não roxa a barba de Barba Roxa?
Que me importa!
Não costumo remexer o pó dessas velharias!
Mas das ruas de Moscou
conheço todas as histórias.
Uma vez instruídos,
há os que se propõem a agradar às damas,
fazendo soar no crânio suas poucas idéias,
como pobres moedas numa caixa de pau.
Eu, somente com os edifícios, conversava.
Somente os canos de água me respondiam.
Os tetos como orelhas espichando
suas lucarnas atentas
aguardavam as palavras
que eu lhes deitaria.
Depois
noite a dentro
uns com os outros
parlavam
girando suas línguas de cata-vento.

ADULTOS

Os adultos fazem negócios.
Têm rublos nos bolsos.
Quer amor? Pois não!
Ei-lo por cem rublos!
E eu, sem casa e sem teto,
com as mãos metidas nos bolsos rasgados,
vagava assombrado.
À noite
vestis os melhores trajes
e ides descansar sobre viúvas ou casadas.
A mim
Moscou me sufocava de abraços
com seus infinitos anéis de praças.
Nos corações, nos relógios
bate o pêndulo dos amantes.
Como se exaltam as duplas no leito do amor!
Eu, que sou a Praça da Paixão,
surpreendo o pulsar selvagem
do coração das capitais.
Desabotoado, o coração quase de fora,
abria-me ao sol e aos jatos de água.
Entrai com vossas paixões!
Galgai-me com vossos amores!
Doravante não sou mais dono de meu coração!
Nos demais - eu sei,
qualquer um o sabe -
O coração tem domicílio
no peito.
Comigo a anatomia ficou louca.
Sou todo coração -
em todas as partes palpita.
Oh! Quantas são as primaveras
em vinte anos acesas nesta fornalha!
Uma tal carga
acumulada
torna-se simplesmente insuportável.
Insuportável
não para o verso
de veras.

O QUE ACONTECEU

Mais do que é permitido,
mais do que é preciso,
como um delírio de poeta
sobrecarregando o sonho:
a pelota do coração tornou-se enorme, e
norme o amor,
enorme o ódio.
Sob o fardo,
as pernas vão vacilantes.
Tu o sabes,
sou bem fornido,
entretanto me arrasto,
apêndice do coração,
vergando as espáduas gigantes.
Encho-me dum leite de versos
e, sem poder transbordas,
encho-me mais e mais.

CLAMO

Levantei-me como um atleta,
levei-o como um acrobata,
como se levam os candidatos ao comício,
como nas aldeias se toca a rebate
nos dias de incêndio.
Clamava:
"Aqui está, aqui! Tomai-o!"
Quando este corpanzil se punha a uivar,
as donas
disparando
pelo pó, pelo barro ou pela neve,
como um foguete fugiam de mim.
- "Para nós, algo um tanto menor,
algo assim como um tango..."
Não posso levá-lo
e carrego meu fardo.
Quero arremessá-lo fora
e sei, não o farei.
Os arcos de minhas costelas não resistem.
Sob a pressão
range a caixa torácica.

TU

Entraste.
A sério, olhaste
a estatura,
o bramido
e simplesmente adivinhaste:
uma criança.
Tomaste,
arrancaste-me o coração
e simplesmente foste com ele jogar
como uma menina com sua bola.
E todas,
como se vissem um milagre,
senhoras e senhorias exclamaram:
- A esse amá-lo?
Se se atira em cima,
derruba a gente!
Ela, com certeza, é domadora!
Por certo, saiu duma jaula!
E eu júbilo
esqueci o julgo.
Louco de alegria
saltava
como em casamento de índio,
tão leve, tão bem me sentia.

IMPOSSÍVEL

Sozinho não posso
carregar um piano
e menos ainda um cofre-forte.
Como poderia então
retomar de ti meu coração
e carregá-lo de volta?
Os banqueiros dizem com razão:
"Quando nos faltam bolsos,
nós que somos muitíssimo ricos,
guardamos o dinheiro no banco".
Em ti
depositei meu amor,
tesouro encerrado em caixa de ferro,
e ando por aí
como um Creso contente.
É natural, pois,
quando me dá vontade,
que eu retire um sorriso,
a metade de um sorriso
ou menos até
e indo com as donas
eu gaste depois da meia-noite
uns quantos rublos de lirismo à toa.

O QUE ACONTECEU COMIGO

As esquadras acodem ao porto.
O trem corre para as estações.
Eu, mais depressa ainda,
vou a ti,
atraído, arrebatado,
pois que te amo.
Assim como se apeia
o avarento cavaleiro de Púchkin
alegre por encafuar-se em seu sótão,
assim eu regresso a ti,
amada, com o coração encantado de mim.
Ficais contentes de retornar à casa.
Ali vos livrais da sujeira,
raspando-vos, lavando-vos,
fazendo a barba.
Assim retorno eu a ti.
Por acaso,
indo a ti não volto à minha casa?
Gente terrena ao seio da terra volta.
Sempre volvemos à nossa meta final.
Assim eu,
em tua direção me inclino
apenas nos separamos
mal acabamos de nos ver.

DEDUÇÃO

Não acabarão com o amor,
nem as rusgas,
nem a distância.
Está provado,
pensado,
verificado.
Aqui levanto solene
minha estrofe de mil dedos
e faço o juramento:
Amo
firme,
fiel
e verdadeiramente.

Desculpas, de novo

Peço a todos os leitores, se é que eu ainda tenho algum, desculpas pela ausência. É a segunda e - espero, a última vez que me afasto. Tentarei compensar a ausência e, tenho certeza, uma boa parte dessa compensação estará na próxima postagem...

25.11.06

Ren & Stimpy

Começo dos anos 90, TV a cabo era novidade, um universo inteiro diante de nós e a possibilidade de escolher qualquer programa, de se informar sobre qualquer assunto. Internet não existia ainda, era o comço da BBS (quem se lembra disso?). A TV a cabo era o grande oráculo.

E, diante de todas aquelas opções, eu passava HORAS assistindo Ren & Stimpy, cuja qualidade pode ser bem atestada pelo comercial do Log, da Blamo, e pelo inesquecível Royal Anthem of the Canadian Kilted Yaksman!

Isso explica muita coisa...

Pra quem estiver com tempo, recomendo o episódio Rubber Nipple Salesmen. Versão resumida dele aqui, pra quem estiver sem tempo.

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