16.6.07

Memoire de la nuit e o peidorreiro


Ontem fui ao teatro assistir à peça "Memorie de la nuit". Realmente é muito boa. Vejam a sinopse, segundo o Correio Braziliense:


"O suíço Philipp Boë não vê a hora de apresentar o seu solo Mémoire de la Nuit em palcos brasileiros. Atração de hoje e amanhã, às 21h, e domingo, às 20h, na Mostra Internacional de Teatro (MIT), que segue até o dia 24, no CCBB, ele diz estar curioso por conhecer as diferenças de estilo do teatro no Brasil. Não só isso: quer sentir na pele as impressões do humor brasileiro. “Espero que o público goste desse surreal universo inspirado por René Magritte e também quero ter retorno direto do público. Estou interessado em conhecer as diferenças do humor nas várias culturas. As pessoas no Brasil provavelmente irão rir em
momentos diferentes do que acontece em outros lugares”, prevê Boë.


Criado há três anos, Mémoire de la Nuit utiliza elementos de ilusionismo para narrar a aventura de um detetive que tenta solucionar um misterioso assassinato. Para montar esse quebra-cabeça nebuloso, ele conduz o público em uma viagem onírica, tendo como referência não apenas a mente do criminoo, mas também suas reminiscências. As alegorias visuais dão impressão de ter saído de um filme do americano David Lynch. 'Estou convencido de que cada apresentação cresce com o público. No meio da trama, alguns textos dão à platéia várias pistas da história', destaca Boë."

Para assistir aqui em Brasília, porém, está complicado. Todos os ingressos já foram vendidos, eu fui na data da abertura e - literalmente - comprei o último. Depois, na peça, descobri por quê.

Antes de começar o espetáculo, havia uma equipe da TV Gazeta entrevistando o público. Fiquei com medo de eles virem na minha direção, porque eu definitivamente não tava a fim de aparecer na TV. Mas, pra minha alegria, eles resolveram entrevistar um cara que tava perto de mim. Era um daqueles sujeitos de fala mole e aspecto intelectualóide, quase telepata, que eu já descrevi neste blogue. Este, porém, além da famosa sandália de couro, ainda apresentava um cabelo cuidadosamente despenteado. A impressão que passava - e eu não tenho nenhum motivo pra duvidar que era proposital - era que, de duas uma: ou ele havia acabado de acordar, ou não tomava banho pra não enriquecer as multinacionais que produzem chuveiros, se é que há alguma.

No momento do espetáculo, essa preciosa figura sentou-se do meu lado e começou a conversar com outro sujeito, que igualmente estava de sandálias de couro (óbvio). Eu fiquei no meio do fogo-cruzado. As conversas giravam em torno da necessidade de fomento à cultura em contraposição ao teatro de grande público, e o papel dos bancos ricos nessa parada.

Num dado momento, o descabelado disse algo que me deixou especialmente irritado:

- Cara, o que eu acho bacana é que os preços aqui são bem baratos. Eu chego sempre de manhazinha pra comprar os ingressos e compro sempre dois, em todos os dias. Assim eu posso decidir quando é que eu estou a fim de ir, e se quero levar alguém.

Eu, que quase não consegui comprar o ingresso e ainda não pude convidar ninguém pra ir comigo, porque peguei o último, naturalmente tentei argumentar com o sujeito se ele não acharia um pouco egoísta essa postura, mas há pessoas que simplesmente não estão preparadas para admitir que podem estar erradas, ainda mais se quem aponta isso é alguém que toma banho.

Começou a peça, que é excelente, e essa figura, pra piorar ainda mais começou a peidar. Ele peidou durante a peça inteirinha. Insuportável. Peido fedido, cara, como pode? E ainda ficava suspirando o espetáculo todo, como quem estivesse entediado, achando tudo aquilo uma merda.

Como achar uma peça como essa ruim é algo que me intriga, porque era original, bem bolada, bem executada e muito rica. Mas tudo bem. Terminou o espetáculo, o teatro inteiro aplaudiu de pé e ele fez questão de não bater as mãos uma única vez. Saiu do teatro com cara de quem não gostou, como um gênio incompreendido neste mundo medíocre.

Haja paciência...

2 Comentários:

At 3:01 PM, Anonymous Anônimo said...

A sua mais nova leitora (nova em ambos os sentidos, hehehe)te ligou no domingo, mas vc por presunção não a atendeu.
Acabei não indo nem ao show do Moska, nem a peça =/

bejitos.

 
At 2:19 PM, Blogger Principessa said...

Ah, infelizmente também já tive minhas experiências com esses tipinhos. Para eles, a definição do que é ou não gostável em termos de arte não depende de critérios estéticos subjetivos (como sucede com o comum dos mortais), mas sim da seguinte equação matemática: x + y + z / m = r (em que x corresponde ao número de pessoas que não conhecem a manifestação artística em questão; y é a quantidade de pessoas que poderão ficar impressionadas com a sua referência; z é a importância de quem recomendou e m é a biografia do autor)...

 

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