13.6.07

Namoros?

Este texto não é meu, é do Xico Sá. Eu bem que gostaria de tê-lo escrito, mas eu não teria, nem a idéia, nem o talento pra atingir esse modelo final. Portanto, contento-me em reproduzi-lo, dando o crédito a quem realmente merece...

Não se pede mais em namoro em São Paulo

É namoro ou amizade? Rolo, cacho, ensaio de amor, romance ou pura felicidade clandestina?
“Qualé a sua, meu rapaz?!”, indaga a nobre gazela. E o homem do tempo nem chove nem molha. Só no mormaço, só na leseira das nuvens esparsas.


Na era do amor líquido, para lembrar o título do ótimo livro de Zygmunt Bauman sobre a fragilidade dos encontros amorosos, é difícil saber quando é namoro ou apenas um lero-lero, vida noves fora zero…

Cada vez mais raro o pedido formal de enlace, aquele velho clássico: “Você me aceita em namoro”?

Talvez nem exista mais em São Paulo, a não ser lá na divisa com o Mato Grosso, numa taberna perdida de Mirassol, na praça de Guzolândia, depois da missa de domingo, talvez em Cosmorama, nunca na Ilha Solteira…

O amor e as suas malasartes. O amor será sempre dirigido por Hitchcock, haja suspense, mestre!

Quer namorar comigo?”

No tempo do “ficar”, quase nada fica, nem o amor daquela rima antiga.

Alguns sinais, porém, continuam valendo e dizem muito. O ato das mãozinhas dadas no cinema, por exemplo, ainda é o maior dos indícios.

Mais do que um bouquet de flores, mais do que uma carta ou um email de intenções, mais do que uma cantada nervosa, mais do que o restaurante japonês, mais do que um amasso no carro, mais do que um beijo com jeito, daqueles que tiram o batom e a força dos membros inferiores.

“Vamos pegar uma tela, amor?”, como se dizia não muito antigamente. Eis a senha.

Mais até do que um jantar à luz de velas, que pode guardar apenas um desejo de sexo dos dons Juans que jogam o jogo jogado e marketeiro do homem-bistrô, aquele que conhece vinho, que cheira a rolha para impressionar a moça .

O cinema, além da maior diversão, como diziam os cartazes de Severiano Ribeiro, é a maior bandeira. Nada mais simbólico e romântico. Os dedos dos dois se encontrando no fundo do saco das últimas pipocas… Não carecem uma só palavra, ainda não têm assuntos de sobra.

Salve o silêncio no cinema, que evita revelações e precoces besteiras.

Ah, os silêncios iniciais, que acabam voltando depois, mas voltando sem graça, surdo e mudo, eterno retorno de Jedi. Nada mais os unia do que o silêncio, escreveu mais ou menos assim, com mais talento, claro, Murilo Mendes, outro monstro entre os nossos líricos.

Palavras, palavras,palavras…

Silêncio, Silêncio, silêncio…

Dessas duas argamassas fatais o amor é feito e o amor é desfeito. Simples como sístole e diástole de um coração que ainda bate.

3 Comentários:

At 1:58 AM, Anonymous Anônimo said...

Ora, ora, estou gostando de ver a assiduidade!Bom menino! Beijo no seu coração.

 
At 10:38 AM, Blogger Unknown said...

eu tb amei esse texto!

 
At 11:24 PM, Anonymous Anônimo said...

Mais um pro time dos inconformados!!! Muito bom! Bjs

 

Postar um comentário

<< Home

Free Hit Counter
Free Counter