30.8.07

Quadrilha em agosto

Primeira página da edição do Correio Braziliense de 29 de agosto de 2007: perfeita!

http://stat.correioweb.com.br/cw/EDICAO_20070829/fotos/capa.pdf

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24.8.07

Campanha

Convoco todos os leitores (as moscas, principalmente, já que eu não tenho leitor quase nenhum) a participar da campanha que lanço, para que a nossa querida madame pare de dedicar seu engenho e arte ao trabalho e demais coisas verdadeiramente importantes da vida, e volte a desviar parte de sua atenção ao agradabilíssimo agádoisesseoquatro, que não a leva a lugar nenhum, mas nos dá prazer, satisfação e nos traz cultura.
É fundamental que esta campanha seja bem sucedida e que o seja logo, caso contrário essa dedicação toda da madame ao trabalho pode dar resultado, ela vai acabar ganhando um dinheirão, vai viciar, perceberá que dedicar-se ao blogue é perder tempo e nós, que não a remuneramos absolutamente - nem pretendemos fazê-lo, que fique bem claro - restaremos órfãos de nossa grande diversão gratuita, sem mais poder sugar a energia e criatividade da sulfúrica blogueira.
Acho que esta é uma causa nobre, portanto, encampo-a. Madame, se duas pessoas assinarem este post, já será uma adesão de 100% dos meus leitores à campanha. Vou ligar já pra minha mãe, daí vai faltar só o leitor desconhecido!!

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23.8.07

xkcd II


retirado de xkcd.com

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Motos

O Neural Noise já não é mais um menino, mas resolveu realizar um sonho de criança há uns meses. Comprou uma moto. Pouquíssimo tempo depois, acidentou-se e arrebentou o pé, de modo que, se outro sonho de criança fosse participar dos cem metros razos numa olimpíada, ficou um pouco mais distante.

Não adiantou. Há certas coisas que simplesmente fazemos e não sabemos por quê. Ele continua andando de moto e postou hoje ele postou um texto sobre o assunto. Aqui em Brasília, o dono da pizzaria Valentina não tem uma perna porque a perdeu num acidente de moto (segundo ele, o irmão foi buscar sua perna do outro lado da estrada). Ainda assim, continua, utilizando uma moto adaptada.


De minha parte, sempre quis ter uma moto. Mas também sempre quis um monte de coisas: tocar guitarra, jogar futebol, sair com um monte de mulheres, escrever poesia, escrever prosa, ter um hamster...Tentei realizar a maioria desses sonhos: Comprei uma belíssima Epiphone Black Beauty e aprendi a tocar, bem mal, umas duas músicas. Desastre. Tenho o uniforme completo do SPFC, inclusive meias e chuteiras, que uso quando tento, sem sucesso, jogar bola. Saio bastante à noite, me visto bem, mas sou um medíocre (pra ser generoso!!) com as mulheres. Se tento escrever poesia, parece que tenho 11 anos. Prosa, parece que tenho 15. Um dia tive um hamster que teve desentiria e morreu logo depois de eu tê-lo feito tomar um pouco de Leiba.

Ou seja, alguma coisa me diz pra não tentar comprar uma moto...

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xkcd - Choices

Seqüência de cinco partes, extraída do excelente blogue xkcd.
(clique sobre os desenhos para ampliar)





Choices - Part 1






Choices - Part 2





Choices - Part 3




Choices - Part 4





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20.8.07

Freedom Jazz Dance

A bateria tem apenas quatro peças. A música se inicia com uma batidinha na caixa, seguida do ritmo ditado pelo prato, tocado no pedal. Ritmo rápido, intercalado pela caixa. Entra o clarinete, com uma intervenção rápida, póroro-pó. O rapaz da mesa da frente sorri e pega a mão da menina que estava com ele, que também sorri. Mas nem ele está pensando nela, nem ela está pensando nele. Apesar disso, ficaram noivos há pouquíssimo tempo. O clarinetista vê os dois e, novamente, intervém, rapidamente, com algumas notas como se fossem dedicadas ao casal. Agora os pratos são acompanhados pela caixa, num ritmo sempre rápido, tst, tst, ts, pápapa-pá. Uma menina sozinha, no balcão, olha pra trás. Depois, pra porta. Os três rapazes da mesa do centro não prestam tanta atenção. O da ponta, acompanha o ritmo com o dedo. Ele é sozinho e está cansado... quer se apaixonar. Os outros dois, sem descobrir o próprio coração conversam e riem alto. Um deles é sabe que é bissexual, mas guarda-o em segredo, não admite nem pra si próprio. O outro, não questiona sua sexualidade, sabe que tem de seguir a maré. O bissexual olha provocantemente para uma menina da mesa ao lado e cutuca o amigo. Ele adora mostrar virilidade. O outro olha a menina e faz um trejeito 'conquistador', que na verdade é nojento. O jazz corre solto. Essa cobiçada menina da mesa ao lado está com uma amiga, que reclama do namorado, mas ela não ouve muito. Ela queria encontrar um amor sincero, por isso está triste. O baterista está olhando pra essas duas, sorrindo e tocando. Intervém o piano, inicialmente com um acorde rápido. Depois, continuamente. O clarinete inicia um breve solo, ainda tímido. O clarinetista fecha os olhos e vai ao ritmo da música que ele já conhece. Lembra-se de quando a aprendeu, do que queria realizar e de todos os sonhos enormes que tinha. Não atingiu metade das metas, mas não sente tristeza, porque de todos os sonhos, o que tinha mais importância era o de poder sentir a música saindo dele, não do sopro, nem dos dedos, mas dele todo. O trompete começa a falar. O trompetista é amigo do clarinetista há muito tempo. Já tocaram juntos em tantos lugares, inclusive na viagem para Nova Iorque. Eles se olham e se entendem. A bateria, no mesmo ritmo base, dá uma virada e muda o estilo: fica mais rápida. O piano já entrou, agora tocando com mais força. É momento de improvisar. A moça sozinha, no balcão, não consegue aproveitar como de costume. Ele não vem, era evidente, ela sempre soube. De novo, ele não vem. Ela pede a conta, o garçom não ouve. Grita, mas ele não está olhando. Ela se vira e pede pro rapaz do balcão, que vai ao caixa. As duas mulheres da ponta, pra quem o baterista não pára de olhar, conversam, não se ligam no que está acontecendo em volta delas. Há dois engravatados, numa enorme mesa com um monte de gente, que também as olham e comentam, entre si, as fantasias sexuais que têm. Mas são discretos. A turma da mesa é do escritório – solo divino no clarinete – e todos estão ali por obrigação. Era um daqueles chatíssimos happy hours de trabalho. O chefe, empolgado e pensando que é querido, fala dos resultados da empresa – piano frenético, bateria crescendo. As duas meninas, a que fala do namorado e a que quer amor, não têm idéia da luxúria na cabeça dos dois engravatados. Nem da paixão que um dos três rapazes da outra mesa, o que acompanha a música com os dedos, lhe reserva. O pianista sente outra paixão, só sua. Acabou de começar a namorar. Apresentou a ela seu filho pequeno e tudo deu certo. Sua namorada chegou pouco antes e ouve a música, na mesa com um amigo e a irmã, lá no fundo. O amigo veio porque gosta da irmã, mas não tem coragem de dizer. Ela também gosta dele. Nenhum dos dois se manifesta. O pianista põe toda a paixão que sente na música, com cuidado para não se exceder, dum, drum dudududum, passa para um escala aguda e retoma o ritmo. Não há mais solos de piano, mas o ritmo de fundo é todo improvisado. O baixista não se faz perceber. É tímido, discreto e casado há muito tempo. É o termômetro da banda. O cartão da moça do balcão, que está sozinha, não passa. Problema na visa - quê? - problema com a visa!! Ela não trouxe master e fica irritada. Tira o cheque da bolsa. No fundo do bar, há um casal de estrangeiros, mas eles não estão entendendo muita coisa. O pianista está em êxtase, pensa na namorada, que o olha e também pensa nele. O calor dos dois – clarinete cresce, trompete acompanha e o baixo é perfeito – impregna o ambiente.

A música está no auge. De repente, algo muda.

O rapaz que acompanhava a música batendo com os dedos fecha os olhos, respira e se levanta. Vai até a mulher da mesa ao lado, que procura um amor. Fala com ela. Ela arregala os olhos, surpresa. Normalmente seria grossa, mas desta vez não se defende. Simplesmente ouve o que ele tem a dizer. Ele tem muito a dizer e ela gosta do que ouve. O celular da amiga toca. É o namorado, ela sai correndo do bar, porque tinha saído escondida dele. O piano intenso, começa a tocar mais rápido, acompanhando o clarinete que conduz o solo- póroró, póro, pó pórororó. O bissexual, com os olhos marejados, hipnotizado pela banda, sorri, pega a mão do colega ao lado e, virando-se rápido, revela seu segredo, tanto pro amigo, como pra si próprio. O outro arregala os olhos, engole seco, sai e, morrendo de medo, vai ao banheiro, onde se tranca, suado. O baterista esquece a prudência e começa a solar loucamente. O clarinetista e o trompetista continuam se entendendo, e tocam ainda com mais força. Ninguém mais parece saber o que faz, mas o ritmo orna divinamente. Na mesa de happy hour, o chefe, frenético, levanta, olha para o teto e começa a gritar com as duas mãos pro alto, sobre os impressionantes resultados da empresa. Mas, de repente, pára, assustado, encolhe-se e se senta na cadeira, à media que vê os funcionários vagarosamente se levantando. Todos ao mesmo tempo, olhando-o com ira e se aproximando. Baixo e bateria sincronizados, ritmo transcedental. Eles olham o chefe alucinados. Um funcionário lhe dá um soco. Os outros se aproximam e inicia-se um linchamento, ao ritmo da bateria plá, ptum, pá pá tutum. O baterista está definitivamente maluco, toca mais rápido, bate com força. O baixista tenta acompanhar a bateria, e a gomalina no cabelo se desmancha. Os dois rapazes que falavam de suas fantasias sexuais sobem na mesa, tiram a roupa e começam a rodar as calças pelo ar, gritando. A mulher da mesa da frente levanta-se e joga a aliança de noivado no chão. Retira-se enquanto o noivo, que nem lhe olha bate com as duas mãos na mesa gritando - fodaaaaa-seeeeee! A menina que queria um grande amor não tira os olhos do rapaz que a corteja e, sem mais esperar, beija-o apaixonadamente. Os dois caem no chão com mãos para todos os lados. O chefe continua sendo chutado ao ritmo da bateria. A mulher que estava preenchendo o cheque pára, joga a caneta no chão e, com o fundo de um copo, destrói a máquina do visa que não funciona. Bate insistentemente na maquininha, gritando. O som fica ainda mais intenso, puxado pelo piano. O dono do bar reclama, desesperado porque a visa cobra caro pela maquininha, e a mulher aumenta o grito e começa a socar o balcão. Ele avança sobre ela mas os garçons entram na frente e começam a espancá-lo. Ele grita “aaaahhhhh, eu devolvo, eu devolvo os dez por cento da semana passada, eu devolvo!” mas ninguém ouve, plá, papan, ptum tum tá, tá. O pianista não suporta o êxtase, grita enquanto toca, aaahhhhhhhh, louco de amor pela namorada e pela música. Ela levanta da mesa, corre, sobe no palco e se joga no colo dele. Ela o beija e ele não para de tocar. Ela desmancha todo o cabelo dele, que toca cada vez melhor. A irmã dela aproveita a ausência e a loucura, olha com paixão pro rapaz que veio com eles, põe a mão no seu rosto e parte para beijá-lo. É tudo o que ele quer, ele sempre quis. Ela se aproxima, o som é indescritível, a música é intensa e toma conta de tudo. Os linchamentos não atrapalham em nada, porque se dão ao ritmo da bateria. Os estrangeiros continuam sem entender nada. Copos se arrebentam na parede, atirados pela mulher do cartão visa. Trompete e clarinete na sintonia da bateria e do piano. Falta um dedo para o beijo esperado, eles se amam, ele sequer acredita, nunca teve coragem de beijá-la e agora é sua chance. Os olhos se fecham, as bocas se aproximam...

No momento do beijo, ele sente vergonha, medo e, inseguro e tremendo, vira o rosto.

A mulher pára, abaixa a cabeça e fecha os olhos. A música se estanca. A pancadaria pára. Todos olham o casal. Ele e ela de cabeça baixa. O chefe, no chão, está com os olhos inchados, o dono do bar também, mas ainda assim ambos se levantam, com a mão nas costas e olham. A moça e o rapaz que estavam no chão se beijando levantaram, ela arruma os cabelos e ele, as calças. Os dois rapazes descem de cima da mesa e, sem muito equilíbrio, vestem as calças, grunhindo com a garganta, aham, aham, cof, cof. Barulho de talheres pousando à mesa. Depois de alguns minutos de silêncio, todos pedem a conta educadamente, pagam e vão embora. O dono do restaurante repassa os dez por cento aos garçons. O rapaz que virou o rosto vai pra casa e chora a noite inteira.

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16.8.07

Os Simpsons

Sei que, logo logo, vai ficar batida, mas a abertura dos Simpsons feita em filme é ótima.

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15.8.07

Cinco frases do Otto Lara Rezende

1. Política é a arte de enfiar a mão na merda. Os delicados (vide Milton Campos) pedem desculpas, têm dor de cabeça e se retiram.

2. Ultimamente, passaram-se muitos anos.

3. Hoje eu reúno duas condições que em princípio se excluem: sou careca e grisalho. (Ao fazer 60 anos).

4. Eu escrevo todo dia, por compulsão. Mas agora, aos 70 anos, uma das perguntas que mais me intrigam é o que eu vou ser quando crescer.

5. Tenho para mim que sei, como todos os brasileiros, os três primeiros minutos de qualquer assunto.

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I can has cheezburger III


from www.icanhascheezburger.com

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14.8.07

Outro tipo de silêncio

Quando dizem que eu sou comunicativo desconsideram que uma forma eficiente de não dizer absolutamente nada é falando ininterruptamente.

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12.8.07

Cinco frases de Woody Allen

Cinco frases de Woody Allen:

[In 1977] This year I'm a star, but what will I be next year? A black hole?

For some reason I'm more appreciated in France than I am back home. The subtitles must be incredibly good.

Time is nature's way of keeping everything from happening at once.

I took a speed reading course and read 'War and Peace' in twenty minutes. It involves Russia.

If it turns out that there is a God, I don't think that he's evil. But the worst that you can say about him is that basically he's an underachiever.

7.8.07

O coco e o bicho preguiça

Deve fazer dez anos, mais ou menos. Eu fui ao MIS, em SP, ver um festival de curtas amadores. Um deles eu nunca esqueci. Era uma animação, não me lembro de quem (gostaria de lembrar). Começava com o amanhecer na floresta. O sol nascendo, os passaros voando e fazendo barulho, a câmera subindo pela densa mata, o céu, de vermelho, passava pra azul.

A câmera focalizava um bicho-preguiça. Ele estava pendurado, de cabeça pra baixo, num galho de árvore. Vira a cabeça, lentamente, e olha pro coqueiro que está em frente. A câmera se desloca e focaliza um coco. Volta pro bicho-preguiça, ele olha pra câmera e diz, com sotaque baiano:

- Ainda pego esse coco...

A câmera vai para longe, focaliza a floresta. Anoitece; amanhece de novo, o mesmo ritual, sol, pássaros etc. A câmera focaliza de novo o bicho-preguiça, do mesmo jeito, na mesma posição, ele de novo vira a cabeça, bem lentamente, olha pro coco na outra árvore e diz:

- Ainda pego esse côco...

Novamente anoitece, daí a câmera acelera, como se passassem alguns dias. Nova manhã, todo o ritual, focaliza-se de novo o bicho-preguiça, na mesmíssima posição. Ele olha pro coqueiro, a câmera se desloca até o coco que está já quase podre, pendurado num galho. A câmera volta pro bicho-preguiça, que, lentamente, começa a se movimentar. Aos poucos, percorre o galho da árvore até o tronco. Vagarosamente, vai descendo o tronco da árvore. Chega ao chão e, bem devagar, vai até o coqueiro. Chega no tronco e, aos pouquinhos, começa a subir. Sobe, sobe, devagar, quase parando... Chega até o alto. Olha pro côco. Estende a mão, lentamente, no maior esforço. Quando ele está quase pegando... O coco cai.

O bicho-preguiça grita:

- NÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃOOOOOOOOOOOOOOOOOO!!!!

E continua, sempre com o mesmo sotaque baiano:

- Tudo por causa da minha precipitação!!!

4.8.07

Espionagem

As pessoas adoram controlar a vida das outras pelo Orkut. É muito mais eficiente fazê-lo pelos blogues...

I can has cheezburger II



Do site I can has cheezburger

Gatos e cachorros

Há quem prefira cachorros, há quem prefira gatos. Eu costumo dizer que é fácil gostar de um cachorro. O cachorro bajula o dono o tempo todo, faz com que ele se sinta, constantemente, querido e indispensável. Não é incomum ouvirmos histórias do tipo “quando o dono morreu, o cachorro morrou também em seguida”.

Nada contra. Viva os cachorros, eu mesmo tenho uma e a adoro.

A questão é que os gatos não são assim. Eles vão para o colo do dono quando querem e SE querem. Se vc. chega em casa, seu gato pode perfeitamente se esfregar na sua perna ou, caso esteja um solzinho muito bom no lugar onde ele estiver, pode também não se mexer e continuar seu sono agradável. Algumas pessoas simplesmente não conseguem suportar essa independência. Daí, costumam dizer: “Gato é traiçoeiro, gosta da casa, não do dono.”

O amor pelo gato é um amor desprendido. Uma pessoa que é capaz de amar seu gato, aprende a amar independentemente da retribuição. Não que o gato não retribua, ele o faz. Mas quando quer. Amar um cachorro é fácil. No fundo, é um amor por si próprio. Eu admiro as pessoas que gostam de gatos.

Um dia estávamos discutindo esse assunto. Uma amiga minha, que defendia a superioridade do cachorro em relação ao gato como bicho de estimação, deu o seguinte exemplo:

- Imagine se vc. está num período horrível da sua vida. Foi abandonado pela namorada, está sem amigos, seu carro quebrou, vc. acaba de tomar o décimo esporro do seu chefe e sabe que, a qualquer momento, perderá o emprego. Tudo dando errado, aquele dia horrível. Se vc. chega em casa e tem um cachorro, pelo menos ele vai te alegrar. Se vc. tem um gato, quando chega em casa ele ainda pode te ignorar, e daí é que você se sentirá mal mesmo... Nem o gato se importa com você.

Um amigo meu, no ato, respondeu:

- Não, não. Se acontece tudo isso, vc. chega em casa, olha pra baixo e vê aquele cachorro com cara de bobo vindo que nem um bobo-alegre te lamber, aí que vc. se deprime mesmo. Pensa: ‘só este cachorro retardado é que me dá importância no mundo, e ainda por cima é porque eu lhe dou comida’. Agora, se vc. tem um gato, e depois de um dia como esses, chega em casa e é ignorado pelo bicho, então suas energias se renovam! Vc. pensa: ‘Chega!! É a gota d’água!! Preciso crescer como ser humano para ganhar o respeito desse gato!!’

I can has cheezburger


Tirado do site I can has cheezburger.

2.8.07

A Moça Bonita

Lembro-me que, quanto tinha mais ou menos onze anos, talvez dez, fui brincar na casa de um vizinho da minha avó, na praia, durante as férias de verão. Ele tinha recebido a visita de uma prima, que era um pouquinho mais nova que eu (tinha, portanto, dez anos, talvez). Não me lembro o nome dela; não me lembro quanto tempo ela ficou. Lembro-me apenas que ela tinha uma cicatriz enorme no rosto, que se prolongava por toda a bochecha. Essa cicatriz chamou minha atenção imediatamente quando a vi, lembro-me de ter tido algum pensamento de compaixão.

Esse meu amigo montava uma piscina de plástico na frente da casa. Brincávamos muito na piscina. Lembro-me de ter mergulhado e machucado a barriga no fundo. E de mais um ou outro detalhe. Eu não me lembro de muitos fatos, mas eles também não tinham muita importância.

Um dia, a menina foi embora. Eu fui me despedir. Disse apenas "tchau", e ouvi o mesmo. Ela, então, entrou na casa, pra terminar de arrumar as coisas e eu fui pra casa da minha avó. Sentei-me numa rede que havia na garagem e comecei a balançar com força. Continha o choro como podia. Uma vizinha, que passou em frente, comentou baixinho com a minha avó (mas eu ouvi): "Ele está triste. Estava apaixonada por ela (disse o nome da menina, que eu não sei mais qual é)". Eu estava mesmo. Muito. Mas tive vergonha de ser descoberto.

Nunca mais vi a menina. Lembro-me apenas do rosto dela, do cabelo preto, liso, curto, da estranheza que me causou a cicatriz, inicialmente, e do tamanho da ternura que eu sentia, ao final. Também me lembro do nó na garganta, que custava a sair. Engoli a história, junto com o choro, mas não esqueci. Lembrei-me quando li, recentemente, este conto maravilhoso do Rubem Braga, que descreve a mesmíssima situação, porém com muito mais qualidade...


A MOÇA RICA
Rubem Braga

A madrugada era escura nas moitas de mangue, e eu avançava no batelão velho; remava cansado, com um resto de sono. De longe veio um rincho de cavalo; depois, numa choça de pescador, junto do morro, tremulou a luz de uma lamparina.

Aquele rincho de cavalo me fez lembrar a moça que eu encontrara galopando na praia. Ela era corada, forte. Viera do Rio, sabíamos que era muito rica, filha de um irmão de um homem de nossa terra. A princípio a olhei com espanto, quase desgosto: ela usava calças compridas, fazia caçadas, dava tiros, saía de barco com os pescadores. Mas na segunda noite, quando nos juntamos todos na casa de Joaquim Pescador, ela cantou; tinha bebido cachaça, como todos nós, e cantou primeiro uma coisa em inglês, depois o Luar do Sertão e uma canção antiga que dizia assim: “Esse alguém que logo encanta deve ser alguma santa”. Era uma canção triste.

Cantando, ela parou de me assustar; cantando, ela deixou que eu a adorasse com essa adoração súbita, mas tímida, esse fervor confuso da adolescência – adoração sem esperança, ela devia ter dois anos mais do que eu. E amaria o rapaz de suéter e sapado de basquete, que costuma ir ao Rio, ou (murmurava-se) o homem casado, que já tinha ido até à Europa e tinha um automóvel e uma coleção de espingardas magníficas. Não a mim, com minha pobre flaubert, não a mim, de calça e camisa, descalço, não a mim, que não sabia lidar nem com motor de popa, apenas tocar um batelão com meu remo.

Duas semanas depois que ela chegou é que a encontrei na praia solitária; eu viajava a pé, ela veio galopando a cavalo; vi-a de longe, meu coração bateu adivinhando quem poderia estar galopando sozinha a cavalo, ao longo da praia, na manhã fria. Pensei que ela fosse passar me dando apenas um adeus, esse “bom-dia” que no interior a gente dá a quem encontra; mas parou, o animal resfolegando e ela respirando forte, com os seios agitados dentro da blusa fina, branca. São as duas imagens que se gravaram na minha memória, desse encontro: a pela escura e suada do cavalo e a seda branca da blusa; aquela dupla respiração animal no ar fino da manhã.

E saltou, me chamando pelo nome, conversou comigo. Séria, como se eu fosse um rapaz mais velho do que ela, um homem como os de sua roda, com calças de “palm-beach”, relógio de pulso. Perguntou coisas sobre peixes; fiquei com vergonha de não saber quase nada, não sabia os nomes dos peixes que ela dizia, deviam ser peixes de outros lugares mais importantes, com certeza mais bonitos. Perguntou se a gente comia aqueles cocos dos coqueirinhos junto da praia – e falou da minha irmã, que conhecera, quis saber se era verdade que eu nadara desde a ponta do Boi até perto da lagoa.

De repente me fulminou: “Por que você não gosta de mim? Você me trata sempre de um modo esquisito...” Respondi, estúpido, com a voz rouca: “Eu não”.

Ela então riu, disse que eu confessara que não gostava mesmo dela, e eu disse: “Não é isso”. Montou o cavalo, perguntou se eu não queria ir na garupa. Inventei que precisava passar na casa dos Lisboa. Não insistiu, me deu um adeus muito alegre; no dia seguinte, foi-se embora.

Agora eu estava ali remando no batelão, para ir no Severone apanhar uns camarões vivos para isca; e o relincho diante de um cavalo me fez lembrar a moça bonita e rica. Eu disse comigo – rema, bobalhão! – e fui remando com força, sem ligar para os respingos de água fria, cada vez com mais força, como se isto adiantasse alguma coisa.


(Extraído do livro "Os melhores Contos de Rubem Braga", seleção de David Arrigucci, 7ª Ed., São Paulo, págs. 39 e 40)

Conhece alguém assim?


Agradecendo à madame pelo link gapinvoid.com, eu morro de vergonha em me ver estereotipado desse jeito!!

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