30.9.06

Estamos trabalhando para sua satisfação

Por algum motivo meu Glogue se recusa a entrar no ar. Não estou entendendo nada, mas se alguém conseguir acesso à página, saiba que eu estou tão perdido quanto vcs.

26.9.06

Cena contemporânea 2006, parte II

Ontem eu acordei de ótimo humor e comprovei que o inverso do ditado "desgraça pouca é bobagem" também é verdadeiro. Consegui, contra todas as possibilidades, assistir à montagem da morte de Katarina Ivanovna. Meeeu Deus, bem melhor do que eu pensava. 99% da peça é um monólogo da própria Ivanovna. Reproduz-se a cena do jantar após o falecimento do segundo marido da protagonista, até a morte da própria Ivanovna. A peça inteira é em russo, exceção feita a uma ou outra frase que a protagonista pronuncia em português ou inglês, pra situar o público. Mas o fato de a peça ser em russo é pouco relevante, porque a expressão corporal da atriz é de tal forma significativa que todo o público compreende muito bem o espetáculo e se emociona. Recomendadíssimo a todo mundo, fiquei muito bem impressionado. Aplausos em pé, por muito tempo, de todos.

A peça, agora, vai pra São Paulo. Na próxima sexta, sábado e domingo, será montada no Sesc Ipiranga, encerrando a Estação de Teatro Russo de 2006. No site do Sesc há uma excelente sinopse da peça. Na semana seguinte, vai pro Rio de Janeiro.

Quem tiver a oportunidade, deve tentar assistir. Parece que em SP os ingressos estão esgotados, então quem quiser se aventurar deverá ir até lá um pouco antes do espetáculo e ficar na lista de espera, como eu fiz em Brasília. Vale a pena.

24.9.06

Cena contemporânea 2006

Estive sumido do blogue em virtude de uma depressão considerável, que nem o ótimo Festival Internacional de Teatro de Brasília está conseguindo reduzir. Ontem, colaborou com minha tristeza o fato de eu não ter conseguido assistir à montagem russa dos últimos momentos de Katerina Ivanovna, em Crime e Castigo. Triste. Pelo menos bati um papo com a responsável pela montagem no Brasil, uma russa erradicada em SP extremamente simpática...

10.9.06

Kubrick e Jung

Retirei do site do Olavo de Carvalho uma reflexão muito interessante sobre Kubrick e Jung, escrita por José Nivaldo Cordeiro. Pra quem tiver paciência e um pouquinho de tempo, vale à pena dar uma lidinha:

Kubrick e Jung
José Nivaldo Cordeiro10 de outubro de 2001

O recente lançamento dos filmes de Kubrick em DVD permitiu-me revisitá-lo em seqüência, o que ajuda a reconhecer a unidade da obra, seja na sua temática inspiradora, seja na técnica. Toda a obra de Kubrick é uma saga em busca do Divino; a pergunta permanente que faz o grande diretor é sobre o sentido da vida. O que retrata radicalmente é o diálogo e a oposição entre o Bem e o Mal. Seus filmes são recheados do simbolismo mais sagrado, cruzes, mandalas, círculos, estrelas, cores rituais, as dualidades corpo/alma, razão/emoção, eterno/efêmero, homem/mulher, luz/sombra, consciente/inconsciente, morte/renascimento, Criador/criatura, entre outras.
Em qualquer dos gêneros que explorou, da sátira (Dr. Strangelove, Laranja Mecânica), ao drama romântico (Lolita), passando pelo épico (Spartacus, Barry Lyndon), terror (O Iluminado), guerra (Nascido para Matar), ficção científica (2001, Uma Odisséia no Espaço) e, sobretudo, no drama religioso por excelência que é o Eyes Wide Shut, sua obra síntese, o apogeu do trabalho de toda a vida, está a referência constante a Jung. Por isso seus filmes têm sido tão incompreendidos pela crítica, que insiste em colocar o instrumental do materialismo dialético e da psicologia freudiana onde não cabem. Ambas as correntes de pensamento são incapazes compreender a obra, pois estão muito aquém do objeto a ser compreendido. Como, via de regra, a crítica só dispõe desses toscos instrumentos, perde-se em palavras vãs, descoladas completamente do objeto analisado.
É impossível a compreensão da obra de Kubrick para aqueles que são pouco versados em religião. É claro que o espectador poderá até satisfazer seus gostos estéticos, pela maestria da condução do diretor, pelo detalhismo requintado das narrativas, pelo ótimo elenco escolhido a dedo para cada papel, pelos cenários magníficos, pela música magistral, pelos efeitos especiais, sempre à frente do tempo de cada produção. Mais difícil ainda é a compreensão para quem desconhece as obras de Jung. Kubrick é integralmente um junguiano, desde o princípio. Não apenas pela temática religiosa obsessivamente perseguida, mas sobretudo pela exploração dos duplos em praticamente todos os filmes, pela investigação sistemática das profundezas da alma. A sua obra é a psicologia profunda aplicada ao cinema. Não bastasse isso, ele faz uma citação literal de Jung no Nascido para Matar, na cena em que o soldado/repórter responde ao coronel sobre o lema escrito no capacete (born to killer) e o símbolo da paz no broche pregado no peito. Em O Iluminado, a criança com a dupla personalidade é ela mesma uma homenagem à pessoa do Jung, que relata a mesma experiência no seu Memórias, Sonhos e Reflexões.
O símbolo da cruz pode ser encontrado em praticamente toda a obra. Quem não lembra de Spartacus crucificado com os seus, numa tocante e poética prefiguração de Cristo? Não obstante ser um judeu, Kubrick mostra uma fascínio enorme pelas coisas do Cristianismo. E, ao contrário Spilberg, não fez nenhuma obra com temática tipicamente judaica. No Barry Lyndon, por exemplo, obra na qual o Fado é sublinhado de forma muito junguiana, na cena do duelo entre o personagem-título e seu enteado, em um ambiente que mais parece a nave de uma igreja, como um duelo entre o Bem e o Mal, vemos no alto as cruzes resplandecentes na forma de janelas, iluminando o nobre gesto de Lyndon, o guerreiro, poupando a vida do enteado ressentido. Magnífico instante daquele filme.
Da mesma forma, o 2001, Uma Odisséia no Espaço vai levar aos confins do Sistema Solar um engenho humano recheado de símbolos, cruzes, mandalas e círculos, em que o diálogo da criatura com o Criador é metaforicamente exposto na relação da tripulação com o computador Hal. Este humaniza-se ao errar e, ao tornar-se humano, repete a cena inaugural na qual macacos tornam-se assassinos caçadores, testemunhados pelo mesmo enigmático monolito. O próprio formato da nave lembra um espermatozóide penetrando na escuridão cósmica, fertilizando o universo. É o mergulho da humanidade em busca de si mesma.
Em O Iluminado, a frase grifada pelo personagem ("Mais siso e menos riso fazem o Jack infeliz") é um instante em que a dualidade razão/emoção, mente/coração, o apolínio e o dionisíaco se chocam. Há um claro renascer de Dionísio no Ocidente nos últimos séculos, um nome pagão para o que a mitologia cristã chama de Diabo, em disputa com o caráter apolínio de Cristo. Siso contra o riso, razão x emoção: é o Diabo enganador mais uma vez desviando a humanidade mediante a promessa da felicidade fácil e falsa. A existência é e sempre foi um fardo, uma cruz a ser carregada. A festa que ele oferece é apenas uma festim antropofágico contra a entrega da alma, ou seja, da própria liberdade espiritual, da própria essência do Ser. Nesse filme, o sonhado e real se confundem. O sonho é a realidade.
Finalmente, o Eyes Wide Shut leva a expressão dos sonhos interagindo com a realidade ao limite dos recursos do cinema. O olho interior pode ser desnudado mediante a retirada de um simples pano negro. Inversamente, ao colocar o pano negro, ou seja, ao adormecer, a pessoa passa a viver uma outra realidade pelo olho interior, pelo onírico. E esse olho vê aquilo que está sob a superfície, o nefando, o sensualidade desenfreada, a perda do "siso para o riso". No entanto, o mergulho no mundo onírico é a condição para o conhecer-se a si mesmo, para o encontrar-se, para a redenção. No Laranja Mecânica há uma cena em que o personagem protesta que a retirada do julgamento moral em alguém retira-lhe a condição humana. Em outras palavras, é necessário ao Homem confrontar-se com o Mal na plenitude de sua liberdade e inteireza, Mal que lhe aparece de todas as formas, nos duplos feminino/sombra/interior. Para buscar a luz é antes necessário renascer do reino das trevas. Para a plenitude, é preciso descobrir o Outro, sobretudo o feminino (o inverso vale para a mulher). Para renascer antes é necessário morrer. O sexo despojado de seus aspectos demoníacos é o que permite a Vida, a vinda das novas gerações, a sacralidade da união homem/mulher que é a magia da existência e a própria expressão da Divindade. Let’s a fuck!
A obra de Kubrick é uma oração ao Indizível. É o olho de um filósofo perscrutando as profundezas da alma. É uma lição de vida, mas para isso é preciso ter olhos para ver, é preciso retirar a trava do olho que impede ao espectador a percepção da realidade mais profunda.

6.9.06

Cordel II

Seguindo a minha recente fixação com aberturas de novelas e com literatura de cordel, fui atrás e achei a abertura da primeira novela Roque Santeiro, de 1975, cujo título, na verdade, era "A fabulosa história de Roque Santeiro e de sua fogosa viúva, a que era sem nunca ter sido". A música é de inspiração nordestina e as xilogravuras são bárbaras, vale à pena dar uma olhada...

Indecisos!!

Eu estava conversando com minha amiga por e-mail, e a gente tava comentando como é insuportável conversar com alguém indeciso. Bom, sei lá, insuportável, talvez seja exagerado, mas é chato. Pelo menos na maioria das vezes. Há momentos em que não. Bom, mas é quase sempre. Quer dizer, depende da pessoa. Ah, sei lá.

5.9.06

Cordel

O site da ABLC é ótimo para se conhecer mais sobre a literatura de cordel. Nele, em janela, há a explicação sobre as diversas métricas passíveis de utilização: as iniciais, o verso de quatro sílabas, os versos de cinco sílabas, as estrofes de quatro versos de sete sílabas, as sextilhas, as setilhas, as oitavas (oito pés de quadrão), as décimas, o martelo agalopado, o galope à beira mar e a meia quadra.

Os exemplos dados para cada uma das técnicas são excelentes. O que eu cito adiante definitivamente não é o melhor, mas é irresistível. Quando se menciona a origem do Martelo Agalopado, criado pelo Professor Jaime Pedro Martelo (1665-1727) , a seguinte passagem é transcrita:

"Visitando Deus a Adão no Paraíso
achou-o triste por viver no abandono,
fê-lo dormir logo um pesado sono
e lhe arrancou uma costela, de improviso
estando fresca ficou Deus indeciso
e a pôs ao Sol para secar um momento
mas por causa, talvez dum esquecimento
chegou um cachorro e a carregou,
nessa hora furioso Deus ficou
com a grande ousadia do animal
que lhe furtara o bom material
feito para a construção da mulher,
estou certo, acredite quem quiser
eu não sou mentiroso nem vilão,
nessa hora correu Deus atrás do cão
e não podendo alcançar-lhe e dá-lhe cabo
cortou-lhe simplesmente o meio rabo
e enquanto Adão estava na trevas
Deus pegou o rabo do cão e fez a Eva."

4.9.06

Cumeeeeeeu!

A melhor abertura de novela de que me lembro. Música do Caetano Veloso, cenário totalmente Lichtenstein, eu adorava com 10 anos mas não sabia nada disso. A primeira novela que eu me lembro de ter visto. Lembro-me de que, na quinta série, eu revidei um tapa dado pela Daniela, por quem eu era completamente apaixonado, bem ao estilo Professor Fábio. E ainda emendei: Bateu, levou! Eita influência...

Despina, de Italo Calvino

Capítulo extraído do livro "Cidades Invisíveis", de Italo Calvino (tradução de Diogo Mainardi). Abaixo, coloco o original em italiano, para os eventuais puristas. Texto ótimo.


"DESPINA

Há duas maneiras de se alcançar Despina: de navio ou de camelo. A cidade se apresenta de forma diferente para quem chega por terra ou por mar. O cameleiro que vê despontar no horizonte do planalto os pináculos dos arranha-céus, as antenas de radar, os sobressaltos das birutas brancas e vermelhas, a fumaça das chaminés, imagina um navio; sabe que é uma cidade, mas a imagina como uma embarcação que pode afastá-lo do deserto, um veleiro que esteja para zarpar, com o vento que enche as suas velas ainda não completamente soltas, ou um navio a vapor com a caldeira que vibra na carena de ferro, e imagina todos os portos, as mercadorias ultramarinas que os guindastes descarregam nos cais, as tabernas em que tripulações de diferentes bandeiras quebram garrafas na cabeça umas das outras, as janelas térreas iluminadas, cada uma com uma mulher que se penteia. Na neblina costeira, o marinheiro distingue a forma da corcunda de um camelo, de uma sela bordada de franjas refulgentes entre duas corcundas malhadas que avançam balançando; sabe que é uma cidade, mas a imagina como um camelo de cuja albarda pendem odres e alforjes de fruta cristalizada, vinho de tâmaras, folhas de tabaco, e vê-se ao comando de uma longa caravana que o afasta do deserto do mar rumo a um oásis de água doce à sombra cerrada das palmeiras, rumo a palácios de espessas paredes caiadas, de pátios azulejados onde as bailarinas dançam descalças e movem os braços para dentro e para fora do véu. Cada cidade recebe a forma do deserto a que se opõe; é assim que o cameleiro e o marinheiro vêem Despina, cidade de confim entre dois desertos. "


"DESPINA

In due modi si raggiunge Despina: per nave o per cammello. La città si presenta differente a chi viene da terra e a chi viene dal mare. Il cammlliere che vede spuntare all'orizzonte dell'altipiano i pinnacoli dei grattacieli, le antenne radar, sbattere le maniche a vento bianche e rosse, buttare fumo i fumaioli, pensa a una nave, sa che è una città ma la pensa come un bastimento che lo porti via dal deserto, un veliero che stia per salpare, col vento che già gonfia le vele non ancora slegate, o un vapore con la caldaia che vibra nella carena di ferro, e pensa a tutti i porti, alle merci d'oltremare che le gru scaricano sui moli, alle osterie dove equipaggi di diversa bandiera si rompono bottiglie sulla testa, alle finestre illuminate a pian terreno, ognuna con una donna che si pettina. Nella foschia della costa il marinaio distingue la forma d'una gobba di cammello, d'una sella ricamata di frange luccicanti tra due gobbe chiazzate che avanzano dondolando, sa che è una città ma la pensa come un cammello dal cui busto pendono otri e bisacce di frutta candita, vino di datteri, foglie di tabacco, e già si vede in testa a una lunga carovana che lo porta via dal deserto del mare, verso oasi d'acqua dolce all'ombra seghettata delle palme, verso palazzi dalle spesse mura di calce, dai cortili di piastrelle su cui ballano scalze le danzatrici, e muovono le braccia un po' del velo e un po' fuori dal velo. Ogni città riceve la sua forma dal deserto a cui si oppone; e così il cammelliere e il marinaio vedono Despina, città di confine tra due deserti. "

1.9.06

Impagável

A descrição do nascimento do sobrinho do nerualnoise tá impagável...

Motim capilar

Duas meninas elogiaram, pasmem, meu cabelo nesta semana. Disseram que ele tem um caimento ótimo (sei lá como), e Nossa, como é fininho, que macio!! Acho que esses comentários estão deixando meu cabelo convencido. Ele está se achando bom demais pra mim. Hoje, quando levantei, havia, no travesseiro, um monte de fios rebeldes que simplesmente optaram por dizer “não” e resolveram me abandonar pra seguir vida própria. A parte de cima da cabeça (famoso “cocuruto”) já sente de maneira intensa os efeitos do desmatamento. Eu sabia que esse negócio de eu ter qualquer coisa bonita que fosse não iria durar muito...

Ciclotimia

Maldita ciclotimia. Eu estava num humor maravilhoso durante toda esta semana. Comprei até uma cama nova pra minha casa, que é macia, bonita (estilo box) e ficou ótima, tudo isso. Dormi maravilhosamente bem de ontem pra hoje, sonhei, tive preguiça de levantar - ao contrário do que acontecia nos outros dias da semana, em que, muitas vezes, eu acordava, sei lá, seis da manhã e não conseguia mais dormir.

Pois daí é que vem o paradoxo: em todos os dias em que eu dormi mal, acordei cedo demais, tive de sair da minha casa desviando das minhas bagunças espalhadas pelo chão, eu estive de ótimo humor. Hoje, dormi como um anjo, minha casa está arrumada e eu estou num humor do cão.

Uma amiga entrou na minha sala, toda feliz, dizendo: "Estou de partida sabe pra onde? Pro RIO DE JANEIRO!!! Vou passaro o fim de semana lá, que delícia etc..." E eu falei tão mal, mas tão mal do Rio de Janeiro pra ela, que vou compreender perfeitamente se ela passar uma semana sem conversar comigo. Três quartos das coisas que eu falei foram da boca pra fora, eu nem acho isso. Várias mentiras. Mas o que eu estava fazendo era simplesmente procurar o único prazer possível num dia de péssimo humor, que é o prazer de espalhar o vírus. Quando vc. está num dia ruim e espalha mal humor pelo ambiente, cada um que vc. traz para o lado negro é uma conquista. Ahhhh.... caras amarradas... Que delícia vê-las num dia como hoje!!!

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